Estreou no passado dia 26 de novembro, o novo filme do diretor português Ruben Alves, Miss, que conta a estória de um rapaz francês que sonha vir a ser Miss França e os obstáculos e consequências implicados neste sonho.
O diretor luso-descente é talvez mais conhecido pelo seu filme A Gaiola Dourada, um retrato de uma família portuguesa. Embora afastado da temática deste filme, Miss contém ainda um elemento importante das obras anteriores de Ruben Alves, ou seja, uma representação fiel do quotidiano real.
Todo o elenco do filme é de nacionalidade francesa e as performances foram todas exemplares, destacando a de Alexandre Wetter, cujo papel principal é lhe bastante familiar visto que o próprio é conhecido pelo seu trabalho como modelo e por desfilar com roupas femininas. O ator partilha bastante características com a personagem principal, e por isso o filme acaba por ter uma ótima representação de alguém que não se identifica com um género específico como homem e mulher.
Os temas principais do filme são a vida e as experiências de um homem que se identifica mais com o género feminino. Para além de Alex, protagonista e pessoa andrógena (pessoa que apresenta aspetos femininos e masculinos), temos Lola um crossdresser que ajuda Alex a atingir o seu sonho. Assim, temos desde logo representadas mais do que uma faceta deste tipo de pessoa, sendo fiel à realidade e mostrando ao público que nem toda a gente que se identifica com o sexo oposto é igual. Ao longo do filme vemos a vivencia de Alex e a visão e pressão que a sociedade tem para com o seu estilo de vida; os olhares de lado e a discriminação estão bem presentes ao longo da história.
No entanto, esta não é a única temática presente, aliás, a segunda temática talvez seja ainda mais importante e se calhar não tão óbvia para alguns. O verdadeiro centro do filme é a mulher, o feminino. Alex quer ser uma mulher, mas está ciente de que nunca o poderá ser fisicamente, então, o que resta é abraçar a sua feminidade interior, levantando perguntas como “qual o verdadeiro significado de ser mulher?”.
O filme usa o concurso Miss França como uma plataforma para descobrir a resposta a esta pergunta. O que era então um símbolo de submissão e opressão, passa agora a ser um instrumento que dá poder às suas participantes. Deixando de ser apenas uma busca pela beleza e requinte superficial e passando a ser uma busca pelo verdadeiro espírito da feminidade e dos talentos, ações e conquistas das mulheres envolvidas.
A mensagem final deste sonho de ser Miss França coloca a pergunta final: então se um homem pode ser Miss França será que a feminidade está separada da biologia e da fisiologia, e é na verdade um estado de espírito e mentalidade?
Concluindo, o filme Miss é sobre coragem, liberdade e aceitação do que somos verdadeiramente, a história de alguém que vive oprimido pela sociedade e que avança todos os obstáculos para puder realizar o seu sonho. Recomendo aproveitar ir ao cinema passar por esta experiência, pois é bastante educacional, capaz de demonstrar um pouco do que é a vivência de pessoas como Alex, incompreendidas pela sociedade e postas de lado.
Rui Pinto