Fazem hoje 30 dias desde a última vez que te vi. Mal podia eu imaginar que seria a última até então. Os últimos acontecimentos têm tentado afastar-nos. Têm tentado afastar-me desse azul invicto, desse branco puritano e do verde glorioso do teu relvado. Mas serão necessários muitos mais esforços, bem mais rigorosos e tiranos, para demover a paixão e a devoção que desenvolvi por ti nos últimos 19 anos.
Perguntam-me várias vezes o porquê de tamanho fanatismo, o porquê de tamanha devoção, o porquê de tanto orgulho, mas, acima de tudo, o porquê de tanto amor por algo que não é material e que nunca me poderá amar da mesma maneira. Bem, eu não sei. Nunca soube responder. É como o amor a um filho. Irás sempre tê-lo. Por muitos erros e falácias que ele cometa, tu vais sempre amá-lo mais do que a ti próprio.
Lembro-me como se fosse hoje da primeira vez que chorei por ti, tinha uns seis anos na altura. Jogava-se o minuto 12 no Dragão contra um gigante inglês, o Chelsea – equipa que nos roubara o treinador e metade do plantel anos antes. E de repente, um rasgo de génio do Raúl Meireles. Um remate de primeira do meio da rua que desvia de forma ligeira na perna do Lampard e acaba por beijar o fundo das redes do Čech. E eu, um gaiato que chorava impulsivamente na sala de casa como se algo lúcido tivesse descido à terra, com a felicidade mais pura que viveu. E outras vezes aconteceu. Com o golo do Quaresma ao Neuer. Com aquele golo do Telles de penalty à Roma, que nos deu a passagem aos quartos-de-final. Com aquele golo do Kelvin aos 92. E mais algumas vezes que não precisam de ser enumeradas.
Várias pessoas tentam entender esta minha paixão, esta nossa paixão, mas não dá. Não consegue ser explicado o amor ultra, o verdadeiro amor ultra. Alguns dizem que é mera hipérbole dramática quando proclamo, sem dúvida e com firmeza, que foste a única jura eterna que fiz até hoje. Daria a vida por ti assim como dás sentido à minha.
Dizem que somos loucos. Sim, provavelmente somos mesmo loucos, loucamente apaixonados, loucamente devotos, eternamente entregues à paixão que já nasceu connosco e que irá até ao término deste ciclo a que chamam vida. A morte não nos assusta, muito menos, a vida. Se morrermos com uma tocha na mão, na outra o cachecol e com o teu símbolo ao peito, será certamente a morte mais digna que algum de nós jamais terá sonhado.
Com tudo isto, só quero pedir-te uma coisa. Peço-te que voltes rápido, mas que neste momento te guardes para que voltes com a força que precisamos, com a chama do Dragão e a alma da invicta intacta. Que a força das nossas vozes, o sopro das nossas bandeiras e as imagens dos nossos estandartes pincelem esse divino palco que tu pisas quando estás em casa. Vivemos os 90 minutos mais longos das nossas vidas. Por isso, quero pedir-te, meu Porto, batalha como nunca e ganha como sempre!
Filipe Reis