O meu tempo pelo secundário cessou há dois anos. Portanto, atrevo-me a vir aqui dar graxa à professora que tive e à disciplina que ela me lecionou com um orgulho tremendo. Agora, sim, já não me podem acusar de estar a lamber as botas à professora, até porque ela costumava mais ir de sapatos, do que propriamente de botas.
Houve para aí há uns tempos uns zum-zuns de que a disciplina mais importante de todas ia acabar – ou, pelo menos, também se discutia por aí para que raio ela servia, se apenas toda ela se baseava em estudar e analisar um passado que já não volta. Os conscientes dizem-me que a disciplina é muito mais do que um simples retrocesso no tempo; os acéfalos que ainda não chegaram lá apenas porque não se aperceberam, consideram que é apenas o estudo de um passado que nada nos diz, que apenas ficou lá para trás e não merece a nossa atenção. Ora, como aluna exemplar que tentei ser, eu faço parte daqueles que estão conscientes.
A minha professora era tão mas tão boa naquilo que fazia, que eu ia para casa realizar aqueles exercícios do manual como se fosse beber um copo de água para me saciar a sede. Enquanto não fizesse tudo o que estivesse estipulado, não me sentiria bem, não me sentiria saciada e descansada na minha plenitude. Nem aqui, nem na China. Eu lia os documentos, muitos deles como testemunhos que factualmente explicavam cada época estudada, cada assunto analisado e detalhado, e sentia-me mesmo envolvida por cada personagem de História. Fazia parte daquele enredo. Provavelmente deve-me ter fascinado, porque me daria para praticar a curiosidade jornalística indo em busca de causas, de fatores, de consequências, instigando os testemunhos e comparando diversas perspetivas distintas, personalidades, factos, datas, contextos (político, económico, cultural e social).
Não é apenas a História que aconteceu, que fez parte; é toda a história que, para além de toda a génese ali residir, fez despoletar as várias épocas, faz agora prever o que poderá acontecer, faz-nos refletir perante as maiores adversidades e arranjar soluções fugazes. Se não soubéssemos do anterior, do que aconteceu, como saberíamos o que agora temos? Andamos, constantemente, em busca pelas respostas ao presente, mas servimo-nos de um passado que contém a riqueza histórica dos factos que servem de mote ao desenvolvimento de questões atuais. É uma ligação mútua de complementaridade. Ter história é o mesmo que lermos um livro: entrando em contacto, lendo, e interessando-nos pelo que está a ser dito, a relíquia temática, podemos desfrutar e retirar algo de muito precioso – o conhecimento e a reflexão. A reflexão é estimulada a cada aula, pelo menos, foi assim que a Esterlita (escreve-se desta forma, não estranhem) nos ensinou, e bem.
E agradeço, em jeito de crónica, para além das palavras todas que lhe disse quando a fui visitar.
Ana Marques