O acrónimo RAP diz-vos alguma coisa, não diz? Cada vez mais até, não? Está na moda, no chamado mainstream, tem umas palavras chocantes e incomuns, umas melodias agradáveis e dançáveis e parece que fica no ouvido, não é? Mas será que isso é RAP, ou será TRAP? Dizem os entendidos que a diferença entre BOOM BAP (o que leigos chamam meramente de RAP) e TRAP são somente os BPM´s (batidas por minuto) do instrumental, mas a verdade e falando de forma geral, não é completamente assim. Há mais diferenças para além do beat e qualquer ser audacioso consegue captar isso mesmo. Nem vou falar de “mumble rappers”, porque iriamos ter aqui um remake do Kamasutra, de um amante da cultura hip-hop contra esses mambleros que simplesmente se aperceberam que RAP dá dinheiro.
Já não é novidade a discordância interna existente dentro do RAP, independentemente do país em questão. De um lado temos o BOOM BAP – o chamado RAP sujo, aquele que contesta, que é insurreto, revolucionário, rude, cru e cita referências dos primórdios a atitude de N.W.A, o flow de B.I.G e a inteligência de Tupac. De outro lado temos o TRAP – RAP fútil, mesquinho, superficial, artificial, misógino e sem história. Sinceramente não sei quem inventou aquilo mas, muito provavelmente, alguém sob o afeito de codeína. Claro que eu estou a falar num efeito generalizado, e que ficaria uma eternidade a escrever imensos rappers que não se enquadram na categoria de mambleros, como diz X-Tense/Pablito, mas a verdade é que, fazendo uma estimativa pessoal, 1 em cada 50 trappers é realmente bom a fazê-lo porque consegue não se enquadrar nos padrões de futilidade dos restantes.
Em Portugal, são poucos os artistas da “nova escola” com um nome relativamente feito que fazem BOOM BAP, que contestam a autoridade, a sociedade e até a si mesmos. Provavelmente os nomes que me lembro de forma mais rápida serão Virtus, GROGNATION, Dillaz e Estraca. É claro que existem mais mas, de facto, ainda não entraram em extinção. Se falar de nomes menos conhecidos, a lista ainda é vasta porque, tal como refere Keidje Lima (Valete), “(…) os tugas dançam melhor do que pensam (…)” e, como tal, os números não aparecem de forma tão veloz. PRAGA/BLOCO VERBAL, BQUEST, ENIGMACREW e LUZ são alguns dos nomes que posso fornecer sem ter de sair da cidade de Vila Nova de Famalicão, com exceção de ENIGMACREW (grupo da cidade invicta), mas no que toca ao TRAP ficaria aqui ínfimas horas a mencionar “artistas” que têm atuações quase todos, senão todos os fins de semana, tais como Lon3r Johny, SippinPurp, Waze, etc. A visibilidade dos mesmos é enormíssima, por escárnio ou por gosto, mas a verdade é que a têm. Numa opinião particular, nada merecida, devido à qualidade de “música” básica, putrefacta e degradante que produzem. As chamadas “músicas” têm enorme visibilidade e não passam de bajulações da frase “money, drugs and bitc***”. Daí o cantor Rui Veloso o ter apelidado de “RAP pimba”.
Mas afinal quem terá razão no meio disto tudo? Penso que não se tratará de validade racional, mas de veracidade cultural. O hip-hop, e consequentemente o RAP, foram criados com um objetivo, com uma função. Tinham como objetivo determinado instruir as ruas, dar voz aos oprimidos, contestar a brutalidade, serem uma espécie de porta-voz dos povos. Se considerarmos esta validade cultural é óbvio, e até poderia dizer de mau tom, não dizer que o Boom Bap é a chave fulcral do RAP. Por outro lado, se apenas refletirmos o Rap como um estilo musical – o que seria um ato ignorante e desaforado –, seria simplesmente irreverente possuirmos uma opinião pois, se desclassificamos um estilo musical a meramente uma sinfonia melódica, seriamos incapazes de julgar e avaliar qualquer tipo de coisa que nos possa oferecer para além disso mesmo.
Filipe Reis