Ora bem, caros leitores, é disto que hoje tenho a honra de vos falar. Se não perceberam ainda, é porque não estão a par de algo a que chamamos: sarcasmo!
Um país com uma gastronomia de requinte, é motivo de orgulho! Classificado como um dos melhores destinos turísticos, outro grande motivo de orgulho! Sermos campeões europeus, o maior motivo de orgulho! Ganharmos a Eurovisão? Impensável, mas orgulhosos para sempre!
E ser o país da Europa com maior abstenção nas eleições europeias? Definitivamente, o maior orgulho português neste feito, não conseguíamos sem vocês: dez milhões de portugueses que fizeram o que de melhor sabem fazer… nada! Os primeiros a criticar, os últimos a votar!
Incrível! Impressionante! Somos o típico português: saímos de casa para uma final do campeonato! Saímos de casa para uma final da taça de Portugal. Enchemos o Jamor, enchemos o Marquês. Festejamos à grande!
Mas sair de casa para exercer o poder de voto: dá direito a uma lista de desculpas!
- Está calor!
- Afinal o que vai mudar? Quem o ganha são eles!
- Estas eleições nem sequer são importantes!
- Quando aparecer alguém que eu acha que vá fazer a diferença, eu vou votar!
Orgulho português: orgulho na ignorância, na passividade e na hipocrisia.
Temos partidos a fazer campanhas de ataques diretos a outros líderes políticos! Encerramentos de campanha onde a cara principal é o um dos maiores devedores da banca portuguesa, algo que o próprio partido condena! Criação de contas falsas nas redes sociais para o partido ganhar destaque e popularidade. E o melhor de tudo, leitores, vocês sabem! Nós somos um país de futebol… por isso, estas campanhas eleitorais tiveram ainda direito a umas versões de músicas adaptadas de claques portuguesas!
Onde está a apresentação dos programas políticos? A preocupação de passarem a mensagem de que é importante ir votar, como fizeram… mas porquê? Incentivem as pessoas, mas deêm-lhes razões para o fazer! Informem as pessoas, chega de as iludir com beijos, canetas e jantares!
Temos antepassados que lutaram, morreram para nos dar o direito ao voto, o direito à liberdade de expressão, à informação, à educação… e acham que o vosso voto em nada vai mudar? Então que pensariam estas pessoas neste momento de grande luta e mudança? Em que a probabilidade de triunfarem era mais reduzida de que o PAN eleger um deputado? (Não vou pedir desculpa pelo spoiler caro leitor, já é hora de estar informado).
O meu orgulho português, neste momento, não existe! Não me revejo num país onde todos os dias assistimos a greves da função pública, privada, pois querem lutar pelos seus direitos e quando temos realmente a oportunidade de o fazer, de algo mudar … não o fazem? Onde está a coerência? Andámos assim há tanto tempo a levar com o António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa que ficámos iguais a eles?
Neste momento, existe uma vitória esmagadora do PS, com direito a eleger nove eurodeputados. Uma assumida derrota do PSD, embora mantenha os seus seis eurodeputados. Uma potência política em ascensão, o Bloco de Esquerda, a eleger dois eurodeputados. Um afundanço igualmente ao do PSD, o CDS com a eleição de apenas um eurodeputado. E uma estreia, do PAN, com a eleição de um eurodeputado. Isto foi o que três milhões de portugueses elegeram ontem, dia de Eleições Europeias.
No Parlamento de Estrasburgo, pela primeira vez, os socialistas e os populares não conseguiriam a maioria no parlamento europeu, embora o PPE continue a ser o partido vencedor no que toca ao número de deputados eleitos. Mesmo assim, o facto de perderem 38 deputados transforma esta vitória numa derrota para o partido, assim como para os Socialistas/Democratas que perderam um número significativo – 35 deputados. Os liberais e os verdes tiveram uma subida bastante acentuada.
E a decisão está tomada! Com as legislativas à porta, só espero que este tempo seja de reflexão e a humilhação de sermos o país com a maior abstenção realmente faça diferença, tanto para nós eleitores, como para os nossos líderes políticos.
A verdade é que: podíamos ter feito melhor portugueses! Mas tenho que dar a mão à palmatória e os provérbios populares são sábios demais para serem ignorados: “Pau que nasce torto, tarde ou nunca de endireita!” E nós somos esse pau que parece que nunca se vai endireitar!
Mas não vamos ter orgulho nisso!
Vera Oliveira