Caros leitores, recetores da minha humilde informação desinteressante, hoje trago-vos algo que me incomoda imenso na nossa sociedade. Eu sei que estão a pensar que eu sou demasiado rabugenta – como sempre – e que, de todas as vezes que escrever uma crónica, irá ser quase sempre (na sua maioria) uma rabugice intensa face a um determinado assunto que me incomode (não esperem que esta, lá porque comecei com um aviso a todos vós, seja menos taciturna que todas as outras).
Vivo o tempo que os nossos mais antigos designam de “o tempo das modernices”. Pertencer ao tempo das modernices, como eles dizem, é estar constantemente em contacto com os meios de comunicação e toda a panóplia infindável de redes sociais que fazem de tudo para nos aliciar sob diversas formas. Eu confesso-vos aqui publicamente: Os meios de comunicação deixam-me doente e deixam-me deprimida – passo já a explicar: estava eu muito bem a passear à noite pela minha vila, o paraíso recôndito do Douro, e eis que me sento para sentir a brisa amena pela face, aproveitando o facto de dar uma folga aos meus músculos (isto de não ir ao ginásio, de embirrar não frequentar locais de retirar o fôlego, tem as suas consequências). Sempre com o olhar observador, vejo-me a reparar numa criança que acompanha os seus pais placidamente num passeio noturno. Porém, como não é de espantar atualmente, a criança caminhava com os olhos focados no telemóvel e, a dada altura do seu trajeto, a rapariga embate contra uma árvore junto da berma da estrada.
Eu cá não sou de desejar ferimentos graves alheiamente, mas o que eu vi foi uma sociedade completamente dependente de um objeto que praticamente nos tira a capacidade de olhar o mundo ao nosso redor e examiná-lo, apreciá-lo como se fossemos autênticos poetas e escritores. Atenção: é importante referir que não estou com isto a querer dizer que todos tenhamos que ser icónicos e prestigiados poetas e escritores – até porque, hoje em dia, ser escritor é das maiores banalidades e duvido que haja por aí muito boa gente com aptidões para a escrita –, nada disso! O que vos quero transmitir, para que fique aqui explícito, é que deixámos de nos interessar em comunicar, estar atento àquilo que acontece à nossa volta; em vez disso, centramo-nos naquilo a que designamos de o “nosso próprio mundo”, o que basicamente consiste em sermos humanos cada vez mais individualistas e despreocupados.
É evidente que os meios de comunicação têm os seus benefícios (eu cá uso e abuso deles, principalmente para ver os jogos do Benfica sentada no sofá com o coração aos pulos, pois eu rego-me pela citação fabulosa de Marshall McLuhan que nos diz que “o meio é a mensagem”), mas pouco se aborda sobre as consequências nefastas que estão inculcadas na nossa sociedade contemporânea e é inadmissível ver como até as árvores nos tentam alertar para estes problemas sociais.
Apesar de tudo o que nos rodeia ser moderno, eu cá mais pareço uma velha enferrujada sempre que me pedem – ou quando sou obrigada – para estar em contacto com estas extravagâncias das tecnologias. É caso para dizer: No meu tempo não havia nada disto!
E sinto-me velha, repentinamente.
Ana Marques