O exemplo de Alfie Evans, o “gladiador que baixou o escudo e ganhou asas”

A discussão pelos temas “pós-materiais” está cada vez mais em voga: legalização da prostituição e das barrigas de aluguer, despenalização da Eutanásia, legalização das drogas leves, entre outros. Pontos comuns? Desvalorização da dignidade subjacente à existência de toda e qualquer vida humana.

Essa discussão, pautada muitas vezes pelo recurso ao senso comum e aos sentimentos, ao invés do recurso ao conhecimento propriamente dito, levanta várias questões, das quais se destacam: Que seguranças possuímos relativamente ao futuro da civilização? Quais os pilares que queremos que moldem as sociedades? Em que Mundo queremos habitar no futuro? Qual o valor que queremos que uma vida humana detenha? Quereremos Estados verdadeiramente laicos?

Estamos a querer tocar no intocável, a tentar alcançar o inalcançável e a desejar o indesejável. Preferimos a morte à vida, o desistir face ao lutar. A civilização, a meu ver, está a caminhar para o abismo. Esse abismo já foi alcançado em vários países. Várias vozes tentam fazê-lo chegar a Portugal. Portugal vai resistindo. Várias vozes tentam fazê-lo chegar a Inglaterra. Inglaterra não resistiu e o pequeno Alfie Evans acabou por falecer, aos 23 meses de idade.

Nesta história, tenho pena de várias coisas. Tenho pena que o juiz tenha dado a ordem de se desligarem as máquinas às quais Alfie estava ligado. Tenho pena do sofrimento que todos os familiares de Alfie suportam neste momento. Tenho pena que, apesar de o Papa Francisco ter oferecido a sua mão a esta família, as autoridades inglesas não a tenham tido em conta. Tenho pena de ecoarem mais alto as vozes que desejavam terminar com a vida do pequeno Alfie do que as que fizeram de tudo para a prolongar, não em sofrimento, mas em qualidade. “A morte não é solução para a vida!” (Francisco Rodrigues dos Santos, Presidente da Juventude Popular).

Por outro lado, tenho noção de que, algures, um qualquer militante do Bloco de Esquerda está contente por, “finalmente”, o sofrimento do pequeno Alfie ter acabado. Esse contentamento surge por duas razões: Inglaterra está a dar passos importantes no caminho que eventualmente levará à legalização da eutanásia (e, consequentemente, à inconsequente desvalorização da vida humana) e pela Igreja, na pessoa do próprio Papa Francisco, ter perdido mais uma batalha na defesa da vida uma vez que, para esse mesmo militante do BE, “todas as vidas importam” unicamente se o seu objetivo final for atacar a religião (ódio puro).

Kate James e Thomas Evans de tudo fizeram para que Alfie Evans sobrevivesse, mas o pequeno Alfie acabou por ser “eutanasiado” pelo poder britânico. Uma vida humana passou a fazer parte de um Estado, contra tudo e todos. “My gladiator lay down his shield and gained his wings at 02:30” (Tom Evans via Facebook).

Rui Loureiro