No decorrer dos anos tenho ouvido muitas vezes perguntas como: “O que queres fazer da tua vida?” e aí eu respondo, com a maior educação que os meus pais me conseguiram pagar. Depois perguntam-me: “Já arranjaste um namorado?” e então eu respondo que estou focada nos estudos, mas, não sendo estas perguntas suficientes, decidem ainda acrescentar à lista: “Quando é que te casas?”. E aí… bem, a educação que os meus pais me deram talvez não seja necessária. Muitas jovens como eu, com os seus quase 20 anos, são interrogadas por familiares, amigos de familiares e amigos dos amigos dos familiares quando estamos a pensar em arranjar um namorado ou casar e quando eu respondo que não tenho namorado ou que não quero casar, parece que chegou o fim do mundo.
A minha mãe casou aos 18 anos, “outros tempos” diz ela. Aos 19 anos, teve o primeiro filho. Eu aos 18 anos não tinha namorado, aos 19 ando na universidade e aos 21 estarei a concluir o meu curso. Para muitas pessoas, o objetivo da sua vida é constituir família e respeito isso. Para outras tantas pessoas, incluindo eu, é ter um curso superior e um trabalho estável para poder aproveitar a vida. As outras pessoas devem respeitar isso. Num século em que ouvimos falar de igualdade e respeito pelo outro, acho que está na hora de aplicar esses conceitos. Apesar de tentar ignorar, cada vez fica mais difícil e cansativo tentar explicar às pessoas que o que queremos da nossa vida não é o mesmo que elas em outra altura quiseram, ou que talvez a nossa mentalidade seja diferente e que está tudo bem com isso.
Os jantares de família tornaram-se num intenso interrogatório da minha vida amorosa, e eu, com toda a minha perspicácia, tento mudar o tema de conversa. Às vezes resulta, outras nem tanto. A minha vida resumiu-se em mim a pensar na minha educação e no emprego que iria arranjar quando acabasse o curso, este era e ainda é o meu objetivo, mas nem todos queremos o mesmo e é isso que faz com que cada um de nós seja diferente e único. Assim como os mais novos têm de respeitar os mais velhos, os mais velhos têm de respeitar os mais novos. Por vezes parece que isso é esquecido, que por sermos mais novos as nossas opiniões não têm valor, que os nossos ideais não merecem o mesmo respeito e que nós não temos razão e que apenas os mais velhos a têm e isso não pode acontecer. Os anos mudam e com eles mudam as mentalidades, ou pelo menos deviam mudar.
Por isso, eu levanto-me da cadeira e digo: eu tenho 20 anos, não sou casada, não tenho namorado, mas não há nada de errado com isso, porque eu escolhi assim. Não me quero casar aos 20 e, definitivamente, não quero ter filhos com esta idade. Respeito quem pensa dessa maneira e espero que respeitem as minhas escolhas.
Andreia Coutinho