Foi na passada segunda-feira, em Vila Real, que começaram os testes das novas ferramentas, chamadas de bengalas eletrónicas, as quais consistem num sistema de visão artificial e uma aplicação móvel que estão a ser desenvolvidos com o objetivo de aumentar a sua autonomia e melhorar a vida das pessoas invisuais.
O projeto criado conjutamente por investigadores do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) e da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), desenvolveu um sistema composto por vários módulos de informação geográfica, visão artificial e uma bengala eletrónica para ajudar as pessoas cegas ou com visão reduzida. João Barroso, investigador do INESC TEC e docente da UTAD afirmou que “Nesta fase do projeto é essencial fazermos testes com invisuais porque há, por vezes, pequenos detalhes que enquanto visuais não conseguimos perceber”. É precisamente para aperfeiçoar todas estas tecnologias que na segunda-feira, no campus da UTAD, vão ser realizados testes com invisuais, uma iniciativa organizada em conjunto com a Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO).
Os sistemas integrados nestas ferramentes são uma aplicação móvel e um módulo de visão por computador, utilizadas em simultâneo ou individualmente, proporcionando o desenvolvimento de novas formas de usar tecnologia para potenciar o aumento da autonomia de pessoas cegas de uma maneira “não invasiva”. “As pessoas cegas podem utilizar estas bengalas da mesma forma como utilizam as tradicionais bengalas brancas, proporcionando-lhes uma utilização confortável e que, ao mesmo tempo, lhes dá informação e alertas sobre o ambiente que os rodeia”, comunicando por Bluetooth com o ‘software’ instalado no dispositivo móvel”, salientou o investigador.
João Barroso explicou que a interação da aplicação com o utilizador é feita através de vibração e de voz, podendo este pedir e obter mais informação através de um ‘joystick’ incorporado na bengala. O módulo de visão por computador permite a leitura de texto, reconhecimento de alguns objetos do dia-a-dia e ainda a validação visual da localização do utilizador, sempre num determinado local onde tenha sido feito um reconhecimento prévio do ambiente.
Para testar estes conceitos, os investigadores criaram um cenário de demonstração no polo da UTAD que vai contar também com uma maquete em três dimensões (3D) do local e que pode ser usado pelas pessoas cegas no início da demonstração, de modo a fazerem um reconhecimento prévio do espaço dos testes através do sentido do tato.
O projeto foi reconhecido com o Prémio Inclusão e Literacia Digital 2015, no valor de 29 mil euros, atribuído pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).
Mónica Oliveira
Fotografia: Reuters