Para, escuta e não fales

Aos primeiros meses de vida todas as pessoas nos adoram. Querem pegar-nos ao colo, dar abraços e beijinhos. Aos seis anos, vamos para a escolinha (como os nossos pais gostam de dizer) e aí começamos a aprender o básico, temos de fazer o que nos mandam e apenas o que nos mandam, porque senão há consequências. Quase nos meus 20 anos, ainda me sinto como uma criança de seis e aposto que não sou a única.

Passamos da escolinha para o secundário, do secundário para a universidade, e não importa em que canto do mundo nós estamos que há algo que nunca muda: a obediência. Não que cumprir as regras seja algo mau, obviamente que não é, temos de cumprir as regras se queremos viver em sociedade, temos de respeitar e ser respeitados, é isso que nos faz ser humanos, mas não é isso que somos para o sistema educativo. Não. Para o sistema o educativo, nós não passamos de nomes e números, somos todos iguais. Nunca ninguém pensou que talvez certas pessoas sejam mais criativas do que outras ou que, talvez, outras pessoas sejam melhores com números do que outras. Eu sou a favor de sempre darmos o nosso melhor e ter o máximo de conhecimento possível, mas meus amigos, não me podem obrigar a tornar-me num génio da matemática, acreditem em mim eu já tentei.

Muitos de nós tentamos o nosso máximo e o que recebemos em troca? Uma nota negativa e um aviso do professor que temos de nos esforçar mais. Já nem falo dos nossos pais que esperam que tiremos sempre 20 e que se esquecem que como eles, nós também temos as nossas fraquezas e defeitos, mas não importa o quanto lhes tentamos dizer porque “nós só estudamos não fazemos mais nada, por isso temos de tirar boas notas”. Passamos anos e anos a estudar, no entanto, nunca ninguém nos diz “admiro o teu empenho”, “devias apostar no teu sonho”. Não. Só ouvimos “sê realista, isso não é viável”, “não podes fazer desta maneira”. Nós só podemos fazer ou dizer algo quando concordamos com a maioria ou com os nossos pais ou professores. Foi para isto que eu passei anos e anos a estudar, para não poder ter opinião? Para não poder criticar algo, porque se o fizer eu estou errada?

Lamento informar, mas eu sou uma pessoa, eu tenho opinião e tenho o direito de a partilhar. Querem dar-nos a educação para depois ela apenas ser utilizada se não for para opinar. O pior é que muitas pessoas pensam assim, o sistema educativo faz-nos acreditar que a nossa opinião não vale de nada, que já não vale a pena a dar porque sempre que o fazemos ouvimos uma “boa opinião, mas não é isso que sai no teste” e se não sai no teste não é importante, e se não é importante não precisas de a ter.

Isto não é um texto a justificar que o que se passa de mal no mundo acontece por causa do tipo de educação que recebemos; isto é um texto a justificar a falta de importância que se dá aos alunos e à sua opinião, à falta de importância que os pais dão à opinião dos seus filhos, à sociedade e a sua falta de interesse pela opinião individual.

Como vivemos num mundo em que há liberdade de expressão, supostamente eu posso dizer o que penso, a menos que seja a verdade dura e crua. Mas para quem quer a verdade nua e crua, aqui vai: nós vivemos num mundo em que somos meros espectadores da nossa própria vida e que se formos lutar por aquilo que queremos, nada vai acontecer. As escolas ensinam que o que sai no teste é o que importa, os pais não ouvem os seus filhos porque “somos muito novos para saber o que queremos” e que não “sabemos o que é a vida”, a verdade só pode ser dita pela metade e nós temos de parar para ver o que os outros fazem, escutar o que os outros dizem e nunca falar o que achamos.

Andreia Coutinho