De onde venho, ser famosa é o limiar da felicidade. Joane é uma curva estreita entre Guimarães e Vila Nova de Famalicão e podemos quase ver o fim do Mundo. Um exagero, mas, acreditem em mim, é muito real.
Ser Joanense é fazer parte dos 8.089 habitantes que ainda restam na vila. O meu pai costumava dizer que quando era novo foi empurrado para cá pela minha avó, mas que se foi habituando a esta vida e que me queria fazer entender que Joane poderia ter o seu brilho.
Balelas! Pensava eu.
De onde eu venho, o céu é azul e os passarinhos cantam pela manhã. De onde eu venho, as pessoas dão-te um sorriso caloroso e deixam as portas abertas sem medos. De onde eu venho, sair para estudar dá direito a um festejo de janela, digo eu que ficam todos na janela a desejar-te as melhores sortes. De onde eu venho, as pessoas vivem no sonho de ser grandes. De onde eu venho, não somos quem somos… somos filhos dos nossos pais. De onde eu venho… Tudo se sabe.
De onde eu venho é super normal rotularem-te pela universidade que frequentas. Como se o nome desta fizesse mesmo parte do teu nome do meio. Por ser um meio tão pequeno as pessoas ambicionam que sejas grande. Ser grande é uma tolice, pensava eu. Ser grande é cansativo.
Hoje em dia, todas as vezes que digo que estou em Vila Real, no segundo ano de Ciências da Comunicação ouço de imediato um “ Ah! A nossa jornalista! Vou ver-te na televisão!”, “Serás a próxima Cristina Ferreira?”. Confesso que fico sempre super embaraçada para responder.
De onde eu venho, não conseguimos captar a beleza e muito menos sentir orgulho nela.
Depois conheci Vila Real e vi que ser de onde eu venho é a característica que mais me define.
Vila Real é um mundo perto de Joane. Vila Real é fria, Vila Real é silenciosa e mal consegues um “Bom dia” de uma senhora no autocarro e quando o fazes elas pensam que as tentas roubar (experiencia própria! Não vamos falar disso!). Vila Real é uma cidade com imensas rotundas, com pessoas de todas as nacionalidades e regiões de Portugal. Em Vila Real os passarinhos não cantam com tanta frequência pelo medo de não serem ouvidos pelo barulho dos carros. Em Vila Real as portas são fechadas e a bondade é escondida.
Ser Joanense em Vila Real é permitir saber da existência do Mito. Ser Joanense em Vila Real é levar na mala a inocência, bondade e se perder a tentar encontrar um sitio. Ser Joanense em Vila Real é ouvir o nome sempre errado e rir. Ser Joanense é falar com um sotaque carregado do Norte e utilizar palavras que muitos não sabem. Ser Joanense em Vila Real é encarar as pessoas de coração aberto.
Por um longo tempo desejei ser de uma grande cidade e hoje, sempre que volto a Joane, sinto que não queria ter vivido e crescido em mais lugar algum. Ser Joanense vai-me levar longe. Ser Joanense em Vila Real vai tornar os meus sonhos realidade.
E a todos os “Joanenses” de cada uma dessas terrinhas nos confins do mundo, estamos onde devemos e levar esse rótulo nas costas vai levar-vos ao mais limiar da felicidade! Talvez sempre tenhamos sido bem-sucedidos e nunca tínhamos descoberto isso.
Vera Fernandes