“A sua filha está grávida de 7 meses.” Foi assim que um pai recebeu a notícia de que a sua filha adolescente estava à espera de uma menina. Vieram as lágrimas. Seguiu-se a culpa. Restou o medo. E agora? O aborto nunca fora opção, mas tendo em conta o tempo de gestação já não era sequer uma hipótese. Talvez fosse esse o motivo que a levou a esconder a gravidez. Medo de que os pais sugerissem um aborto. Ou medo da sua reação. Ou medo do rumo que a sua vida teria a partir de então. Apenas com 16 anos e com uma vida inteira pela frente viu-se obrigada a pensar no seu futuro de uma outra forma. Um futuro onde existe uma criança, um ser indefeso que precisa de atenção. Estava na hora de mudar. Chegou a hora da transição de estudante a mãe.
Quando o abismo parecia estar mais próximo do que nunca, a esperança voltou. A aceitação por parte dos pais não demorou em chegar. A ideia de ter novamente um bebé na família oferecia-lhes um certo entusiasmo. Davam por si a tentar adivinhar-lhe os traços do rosto, a voz, o feitio. Imaginavam a excitação de serem chamados de avós. Ter o pequeno bebé nos braços depressa se tornou no único desejo da família.
Na escola a situação não era tão animadora. Então percebeu que, por vezes, viver na sombra não é assim tão mau. Aprendeu a valorizar a sua própria companhia e a respeitar o silêncio. Afinal, a sua consciência tornara-se na sua melhor amiga. É impossível encobrir uma gravidez numa escola pequena, sobretudo, situada numa aldeia em que toda a gente se conhece. Não dá para evitar que as pessoas comentem e criem versões diferentes das histórias que ouvem.
A sociedade em que estamos inseridos é assim mesmo, porque é mais fácil criticar do que tentar perceber as causas e os motivos. A bondade e o respeito pelo próximo são valores que parecem estar a extinguir-se. Estamos demasiado concentrados no nosso pequeno mundo para prestar atenção à nossa volta. Achamos que os nossos problemas são superiores aos dos outros, mas há alguém, algures, que está a passar por situações piores. Podemos pensar que esta rapariga é demasiado jovem e já vai ser mãe, que terá de deixar de estudar e a sua vida não voltará a ser a mesma. Ou podemos pensar no nascimento de mais uma criança e o quanto será amada. A mãe deixará de estudar sim, mas não definitivamente. A vida não tem de parar. E é aí que o papel da sociedade deveria ser diferente. É cruel dificultarmos a integração de alguém. E só nós podemos mudar isso. Porquê os olhares de reprovação? Porquê o distanciamento? Não deveria ser assim. Falta-nos humildade e a consciência de que a qualquer momento podemos ser nós a ultrapassar momentos difíceis.
Dois meses passaram e o dia chegou. E se havia dúvidas até então, rapidamente desapareceram. Todos ficaram rendidos à pequena recém-nascida. Era notório o amor que todos sentiam ao vê-la. A prioridade da família passou a ser apenas uma: a bebé. Durante o primeiro ano, o secundário foi posto de lado. Só assim podia acompanhar o crescimento da filha. E foi um ano lindo. Aprendeu a ser mãe e descobriu a beleza da maternidade. Engravidar na adolescência não é, de todo, fácil. Muitas vezes os pais demoram a ceder à situação, mas creio que a comunidade com quem nos relacionamos é quem mais demora a entender os sentimentos do outro. Não me refiro a que as pessoas se proponham a dar apoio, não. Basta que não julguem sem conhecer a história por detrás daquilo que veem. Toda a gente passa por coisas más, é injusto criarmos juízos de valor em relação à vida dos outros.
Apesar de todas as dificuldades esta história teve um final feliz: a bebé nasceu saudável e é o ser mais lindo que alguma vez vi.
Alexandra Fonseca