Com a vaga de frio anunciada para todo o país e as temperaturas a chegarem ao zero graus ou descerem mesmo para valores negativos, logo se ouviram notícias de que as câmaras municipais de Lisboa e Porto decidiram ativar os planos de proteção dos sem-abrigos, passando por distribuir comida, bebidas quentes e deixar abertas estações de metropolitano de forma a proporcionar algum abrigo para os que não o têm de todo. Dito de outra maneira, para evitar que morram de frio. Que morram de frio!
Seria de esperar que num país democrático em que todos “somos iguais” e “temos todos os mesmos direitos” esta situação não acontecesse. Estes planos de proteção, servem para evitar que os sem-abrigo morram de frio. Para a maioria das pessoas é impossível pensar que ainda existam pessoas que possam realmente morrer de frio. Aliás, todos temos casas e cobertores na nossa cama, certo? Errado. Existem pessoas que não têm casa sequer.
É necessário chegar o inverno rigoroso para o país se lembrar dos sem-abrigos. Claro que durante o ano há pessoas que tentam melhorar as condições das pessoas que moram na rua, mas são voluntários. O governo durante o ano alguma vez anunciou medidas para ajudar as pessoas que não têm casa? Quantas vezes as câmaras municipais criaram planos de proteção não só para o inverno, mas também para o verão, primavera e outono?
Ninguém se lembra destas pessoas durante os outros meses, talvez porque elas não dão votos ou porque, vai-se lá saber, não dão lucro a ninguém. Porque nós vivemos numa sociedade em que se não houver lucro fecham-se as portas ou vai-se viver para as ruas.
Deve ser uma ótima publicidade para as câmaras quando as notícias passam estes planos de proteção para os sem-abrigo, mas seria ainda melhor se as notícias falassem dos sem-abrigo e do quanto eles precisam de ajuda e quase ninguém faz nada.
Onde está aqui o princípio do “temos todos os mesmos direitos”? Parece mais que uns podem desfrutar de férias durante todo o ano e uns tentam evitar a morte causada pelo frio. Ainda bem que ainda há pessoas bondosas que apesar de não ganharem nada em troca se importam e tentam ajudar quem precisa. Obviamente não trabalham para o governo, ou de outra maneira não fariam isto.
Agora só nos resta esperar que nos próximos tempos estes planos de proteção para o inverno realmente funcionem ou senão as câmaras municipais terão de lidar com a má publicidade de que não fazem nada por estas pessoas durante o ano e quando o fazem não o fazem bem.
Andreia Coutinho