As nove letras da indignação

Estamos em 2018, século XXI, e ainda assim continua-se a ouvir expressões como “uma menina não se comporta assim”, “essa roupa é muito curta, o que é que as pessoas vão pensar de ti?”. Falamos em feminismo e as pessoas ficam indignadas com o termo, falamos que somos feministas e as pessoas pensam que somos loucas. Afinal, para que serve o feminismo mesmo?

Uns dirão que é uma maneira das mulheres se mostrarem superiores aos homens, outros dirão que é uma parvoíce e que as mulheres não são iguais aos homens e, talvez, alguém acerte na definição desta palavra e diga que o feminismo é um movimento que defende a igualdade de direitos entre mulheres e homens. Esta palavrinha que assusta muitas pessoas, possivelmente porque não a entendem, não é nada mais nada menos do que a luta pela igualdade, pela promoção da liberdade sexual, pela desconstrução de estereótipos e preconceitos.

Muitas pessoas poderão pensar que isto já são direitos garantidos, mas seria a mais pura mentira. Em termos de salário as mulheres, em 2015, recebiam, em média, menos 16% do que os homens sendo que faziam exatamente o mesmo trabalho e tinham a mesma habilitação. Onde está a igualdade aqui?

Existem mulheres a serem violadas e a sociedade ainda tem o descaramento de dizer que a culpa é da mulher. Ela é a culpada porque “não devia usar aquela roupa” e que ela “estava a pedir por isso”. Onde está a igualdade aqui? Eu tenho o direito de sair às horas que quiser e não ter medo de ao virar da esquina alguém tentar me violar. As mulheres têm o direito de usar a roupa que quiserem e não terem de pensar que talvez devessem mudá-la porque depois de ser violada as pessoas dizem que ela é que estava a pedir. Ninguém pede para ser violado(a) e ninguém tem o direito de pensar isso.

Os homens podem ter as raparigas que quiserem, podem fazer sexo com quem e com quantas raparigas quiserem, mas se uma mulher sai à noite e beijar alguém já é rotulada como “vadia” e ela que nem pense em ter vários namorados, ou fazer sexo com mais de um, porque de vadia passa a outros nomes de que nenhuma mulher deveria ser chamada. Onde está a igualdade aqui? Não podemos fazer as mesmas coisas que os homens porque a sociedade não aceita.

Eu sou feminista, luto contra a desigualdade de género, e não, não apoio a superioridade das mulheres em relação aos homens. O meu pai é feminista, ele acredita que a mulher e o homem devem receber o mesmo pelo mesmo trabalho. A minha mãe é feminista, ela quer sair à rua e não ser julgada pelo que veste. O meu irmão é feminista, ele acredita que uma mulher pode fazer o mesmo que um homem desde que se sinta confortável com as decisões que toma. As mulheres são feministas, os homens são feministas, eles são feministas porque acreditam na igualdade. Afinal, o feminismo é isso mesmo, a luta pela igualdade.

Nós temos de acordar para o que se passa à nossa volta, pessoas a serem descriminadas pela cor, escolha sexual ou género. Estamos em 2018, século XXI, e eu espero ouvir a sociedade dizer “eu sou feminista porque acredito na igualdade entre homens e mulheres”.

Andreia Coutinho