Religião ou oportunismo?

No último mês temos sido confrontados com vários casos de adoções ilegais por parte da IURD, a Igreja Universal do Reino de Deus. Estas adoções, que têm vindo a acontecer desde 1990, despertaram várias reações no público. Os casos revelados resultaram na abertura de um processo no Ministério Público, no entanto, as entidades públicas envolvidas limitam-se ao silêncio. O escândalo ganhou outros contornos, levando a TVI a promover uma campanha em busca de respostas – #NãoAdotoEsteSilêncio.

Até que ponto a religião não é usada para benefício próprio? A nossa sociedade questiona cada vez mais as verdades irrefutáveis, os dogmas das religiões. Já não acreditamos cegamente naquilo que ouvimos. As pessoas mudaram. As mentalidades vão-se moldando. E então surge a grande questão: como é que existe uma rede de adoções ilegais dentro do catolicismo e só passados 20 anos é que se fala disso? É preocupante pensar na quantidade de adoções realizadas e de crianças traficadas sem que nada tenha vindo a público. Quantos mais segredos estarão escondidos dentro das paróquias, das instituições, do Vaticano? Os escândalos têm sido constantes, quer sejam eles sobre violações ou abusos de crianças. E tudo se resume ao mesmo. Abuso de poder. Não se consegue imaginar situações destas num ambiente dito normal. É necessária a existência de organizações e pessoas que estejam dispostas a arriscar e quando se tem a religião como justificação, tudo se torna mais fácil. E o que acontece com os pais que vêm os seus filhos serem arrancados dos seus braços? Nada. Vivem o seu sofrimento em silêncio. Silêncio este que não é uma escolha. É apenas o resultado de uma voz abafada pelos poderosos.

Passadas duas décadas descobrimos desumanidades que pareciam ser o “Segredo dos Deuses”. Mas, e a partir de agora que será feito com as informações conseguidas? Adivinham o desfecho? Talvez seja a ponta do iceberg. Ou talvez o iceberg seja demasiado forte para conseguir ser explorado.

Alexandra Fonseca