Quão mau está o Mundo quando, ao abrir qualquer um dos principais meios eletrónicos de partilha de informação, a palavra que mais sobressai à vista é “abuso”? Quão mau está o Mundo ao se saber que o sexo feminino, visto como mais frágil na perspetiva de demasiados homens, é o que mais sofre deste tipo de problemas? Quão mau está o Mundo quando existem mulheres com medo de sair à rua em alguns países com medo de serem abusadas, raptadas e/ou obrigadas a fazer coisas tão desumanas que nem sequer passam pela cabeça de ninguém?
Podia continuar a enunciar muitos dos defeitos que existem um pouco por todo o Mundo no que toca à igualdade, neste caso desigualdade, no que toca às injustiças, no que toca às liberdades individuais entre sexos. Podia relatar muitos factos, marcos e momentos históricos ligados à luta das mulheres pelas sua emancipação. Podia mencionar alguns dos nomes mais marcantes da História que deram tudo de si, muitas delas até a própria vida, por causas tão grandes e tão nobres como as supramencionadas.
Poder? Poder até podia… Mas toda a gente conhece a História. Toda a gente sabe o quanto as mulheres contribuíram, ao longo dos tempos, para o desenvolvimento das sociedades. Toda a gente sabe o quanto as mulheres lutaram de forma a garantirem as suas liberdades. Toda a gente sabe o quanto as mulheres se esforçaram de forma a atribuir mais dignidade às suas vidas.
Toda a gente sabe! Toda a gente sabe… Será que toda a gente sabe?
Se toda a gente soubesse um milésimo da história das mulheres, se toda a gente soubesse o quanto as mulheres lutaram de forma a conseguir o seu estatuto na sociedade, se toda a gente soubesse dignificar as mulheres de acordo com toda a sua dignidade, se toda a gente respeitasse mais as mulheres, garanto-vos que não existiriam nenhum problemas com as mulheres, tais como o “abuso”.
Todavia, a história dos movimentos feministas tem sofrido grandes alterações ao longo dos anos. Muitas mulheres deixaram de lutar pela igualdade de sexos e passaram a desejar e a defender a existência uma discriminação positiva da mulher face ao homem. Muitas mulheres passaram a lutar pela superioridade das mulheres face aos homens. Tanto lutaram as feministas iniciais contra o machismo, de forma a promover a igualdade entre os géneros para, agora em pleno século XXI, mesmo ainda não existindo igualdade entre sexos a nível mundial, virem as atuais feministas lutar pela superioridade do sexo feminino face ao masculino. Até que ponto não poderá o feminismo vivido atualmente ser considerado uma espécie de machismo com peruca?
Para concluir, gostaria de mencionar as palavras do Papa João Paulo II na Carta às Mulheres, a carta aberta destinada a todas as mulheres do Mundo publicada em virtude da IV Conferência Mundial sobre a Mulher em 29 de junho de 1995: «Pensando, depois, a um dos aspectos mais delicados da situação feminina no mundo, como não lembrar a longa e humilhante história — com frequência, «subterrânea» — de abusos perpetrados contra as mulheres no campo da sexualidade? No limiar do terceiro milénio, não podemos permanecer impassíveis e resignados diante deste fenómeno. Está na hora de condenar vigorosamente, dando vida a apropriados instrumentos legislativos de defesa, as formas de violência sexual, que não raro têm a mulher por objecto. Mais, em nome do respeito pela pessoa, não podemos não denunciar a difusa cultura hedonista e mercantilista que promove a exploração sistemática da sexualidade, levando mesmo meninas de menor idade a cair no circuito da corrupção e a permitir comercializar o próprio corpo.» (Fonte: Vaticano)
Nota: Gostava de não discriminar todos os homens que são vítimas diárias de abusos também. A todos eles, gostaria de enviar uma palavra de consolo e gostava de tentar incitá-los a lutar contra os agressores, visto “abuso” ser uma forma possível de agressão. Falem com alguma das associações que tratam destes casos, tal como a APAV, que eles próprios têm as diretivas de intervenção para estes casos, não tão raros quanto a generalidade da população pensa.
Rui Loureiro