A chamada Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção é muito mais do que o nome indica. Tem várias condições negativas que afetam a vida estudantil, mas é ignorada por parte dos docentes e alunos.
Na parte profissional, mais precisamente no que diz respeito aos trabalhos desenvolvidos nas aulas e horas extraordinárias, uma das principais características negativas, como o nome indica, é o Défice de Atenção. A maior parte dos diagnosticados com PHDA têm este défice. Isto resulta na desatenção do aluno, durante o período de aulas, o que leva a que o mesmo não consiga aprender.
O aluno com PHDA não tem culpa…. Estava desatento com a mosca que estava a voar. A mínima coisa pode levar à distração do aluno que tem esta perturbação. Mas não são só as moscas que estão a voar que fazem com que ele se distraia. O aluno com o PHDA tem muita coisa para pensar: tem que se lembrar do trabalho para fazer para àquela cadeira; tem cerca de duas semanas depois do teste para entregar o tal trabalho; tem a matéria que sai no teste que está a aprender, neste momento; já para não falar da matéria que saiu na semana passada e que está relacionada com o que está a dar naquela aula em que está “presente”; tem de lembrar-se da aula que tem a seguir; e o que vai fazer depois da aula; etc.
E depois, no final do dia, vai para a cama dormir e esquece-se de tudo o que aprendeu durante a aula. A memoria do PHDA consegue ser das melhores, mas também das piores. Consegue lembrar-se de momentos vividos na infância, mas não se lembra o que comeu no dia anterior.
Por parte dos docentes, temos uma fraca compreensão, já que o aluno não tem culpa de não se lembrar ou não conseguir absorver o que foi transmitido, devido há desatenção. O docente diz: “nós demos isto ontem”, mas ao enunciar isto está a atacar o PHDA. Ele vai sentir-se culpado e incapaz de conseguir acompanhar a vida universitária, o que leva a um sentimento de “não sou capaz”, desmotivando-o, e aumentando o sentimento de tristeza e ansiedade, pois ele pensa que não consegue acompanhar a vida universitária.
Estas coisas, que acontecem durante aulas, e os professores só veem este lado negativo (o de estar a explicar a matéria e, no entanto, o aluno não conseguir absorver a matéria dada), e não levam em consideração o lado positivo do PHDA. Um aluno com esta perturbação consegue interessar-se pela matéria que está a aprender, pelo conhecimento do professor, e com isto faz perguntas para satisfazer a sua curiosidade e aumentar o seu conhecimento.
No final da aula também vai ter com o professor, faz perguntas que apareceram naquele momento. Mas como é que isto acontece? Ele pega em conhecimentos adquiridos fora da sala, uma notícia por exemplo, pega no conhecimento que aprendeu durante a aula e faz a pergunta no seu cérebro. O mais impressionante nisto tudo é que, antes de ele pensar na forma da questão, na pergunta em si, num espaço de menos um segundo já tem a pergunta para fazer.
O professor podia aproveitar o facto de ter um curioso na aula, mas o ser humano olha mais para o negativo do que o positivo.
Todavia, não é só durante a sala de aula que os problemas se manifestam neste tipo de alunos, mas sim fora. Se o aluno tem uma frequência para fazer, ele quando se senta para estudar pensa “vou ouvir uma música para me motivar”. No entanto, quando dá conta já vai na quinta. A procrastinação é um desafio constante para o PHDA: não se consegue concentrar, levando-o a fazer outras coisas para além do que quer verdadeiramente fazer. A mente dele acha que tem tempo para tudo e não se foca no essencial. Faz tudo e mais alguma coisa para não fazer a tarefa, que neste caso é estudar. Não é falta de interesse, é falta de gestão do tempo e dificuldade em concentrar-se.
Mas e quando ele deixa a procrastinação e faz a tarefa? Usando o exemplo do estudo, ele começa a ler a matéria, e de repente passa uma mosca a voar. O aluno olha para o lado, quebra a sua concentração e não consegue voltar a ter ritmo de estudo. Ou depois pergunta “o que é que eu estava a ver?” – esqueceu-se daquilo que estudou, do que interiorizou, ou simplesmente estava a olhar para matéria, mas não estava a ver.
Dei o exemplo do estudo, mas isto também se aplica a tarefas domésticas. A fraca motivação para fazer uma tarefa leva a procrastinação. Porquê? Porque a procrastinação tomou conta dele e esqueceu-se de repente da tarefa que tinha de fazer.
Na verdade, o PHDA tem mais um problema que afeta na universidade, no cumprimento de horários e organização. O PHDA tem a seguinte situação: um teste e um trabalho para fazer. Se for na mesma cadeira, o problema não é grande, faz o teste e de seguida o trabalho. Nessa semana, o teste é num dia e no outro a apresentação. Portanto, consegue se organizar. Mas e quando tem avaliações de diferentes cadeiras? O PHDA não consegue gerir o seu tempo e definir prioridades para o que vai fazer em primeiro, tal é a procrastinação que tem.
A dificuldade em organizar o seu tempo e definir prioridades é uma luta constante, levando-o muitas vezes simplesmente a não fazer nada. A pergunta que vocês fazem é “e se ele fizer uma coisa e depois outra?”- infelizmente é impossível. A mente de um PHDA está programada para fazer uma coisa, e é naquilo que vai ter de usar o seu foco. Se interromper o que está a fazer para fazer uma coisa completamente diferente, o raciocínio dele está perdido e não conseguirá retomar a tarefa inicial. A exceção são as pausas. Se ele fizer pausas ao longo das tarefas, ele consegue retomar aquilo que estava a fazer, pois voltou a ter concentração. Agora, parar de estudar para fazer um trabalho, isso afeta-o e de repente não tem concentração para fazer uma coisa ou outra.
A falta de concentração e organização do seu tempo livre leva o PHDA a não executar tarefas. No caso da faculdade, a fazer trabalhos ou estudar para frequências, o que resulta num incumprimento de prazos, prejudicando, assim, a nota por razões óbvias. Para além disso, o PHDA esquece-se facilmente das coisas e, por essa razão, não consegue decorar datas importantes, tais como momentos de avaliação ou entregas de trabalhos.
Assim sendo, com este artigo espero ter esclarecido a luta constante que um aluno com PHDA tem na universidade, mais precisamente durante o tempo de estudo, trabalho e aulas. Escrevi isto para esclarecer lutas internas que o PHDA tem. Mas a culpa não é do aluno, a mente dele tem capacidade para dar mais, mas para isso acontecer são recomendados dois principais tratamentos. A mediação, sendo esta a primeira linha para o PHDA e as idas ao psicólogo, sobretudo para trabalhar a ansiedade e o stress.
António Teixeira