Há algum tempo comecei a ler um livro e deparei-me com uma “afirmação”: a de que o suicídio não fazia o mínimo sentido. Isto fez-me refletir sobre o suicídio e a razão que leva as pessoas a cometerem-no.
Depois de muito ouvir falar sobre este tema, percebi uma correlação: pessoas suicidas acabam sempre por criar um desespero em relação à vida. Criam uma crença de que as coisas não irão melhorar, sentem um desamparo, acreditam que não têm escolha nas suas ações, ficam inertes e perdem a vontade de viver, não encontrando um sentido para a vida.
Esta perda de vitalidade, ou vontade de viver, acaba por se transformar numa depressão. As pessoas pensam que a depressão é apenas sentir-se triste, mas é muito mais do que tristeza ou mágoa. Ambas (a tristeza e a mágoa) podem ser geradas pela perda de um ente querido, por exemplo, mas eventualmente desaparecerão com o tempo. A depressão, por outro lado, demora a passar; é uma falha no amor como o concebemos. Não existe amor sem o sentimento de perda, e a depressão acaba por ser a perda do amor pela nossa própria vida, a perda da esperança.
A ausência da vitalidade traz outro olhar sobre o mundo: tudo se torna difícil, tudo é desgastante, como se tivéssemos de carregar uma cruz todos os dias, a todos os momentos. É algo ridículo. Chega ao ponto de, ao vermos que alguém nos ligou, em vez de pensarmos “esta pessoa quer falar comigo”, pensamos “já vou ter de ligar a esta pessoa”. E ver que isso é normal para todos acaba por criar um sentimento de “não faço nada, sou mesmo um inútil que nada faz”.
Estes sentimentos levam a um medo constante de algo que nem sequer existe. E então, a pessoa pensa que a vida é demais, que talvez valha mais a pena o suicídio, mas não o faz por pensar nos outros. Um suicida não quer magoar os outros, apenas quer acabar com o seu sofrimento.
A depressão é tão cansativa e tão desgastante que o silêncio só a piora.
No início, disse que as pessoas não encontravam um sentido na vida. Sendo assim, será que a vida precisa mesmo de ter um sentido? Obviamente não fui o primeiro a deparar-me com esta “angústia existencial”.
Kierkegaard, pai do existencialismo concluiu que, seja o Homem religioso ou não, é ele que tem de tomar as rédeas da sua própria vida, independentemente de esta ter ou não sentido.
Sartre, por sua vez, afirma que: “Estamos condenados a ser livres.” “A existência precede a essência.” Resumindo, nós nascemos primeiro e depois escolhemos o que queremos ser. Como seres conscientes, conseguimos negar a nossa natureza animal, os nossos instintos, e simplesmente fazemos o que queremos. Nada está definido para nós antes de nascermos; não nascemos a saber que vamos ser médicos, professores ou engenheiros. Por isso, é que para Sartre a existência vem antes da nossa essência; porque somos livres e podemos escolher a nossa própria essência. Logo, a vida não tem nenhum sentido. E, portanto, podemos ser nós a atribuir-lhe um.
É extremamente absurdo nós, seres evoluídos, com a nossa bela existência, dizermos: “Não! Eu sou um ser humano, a minha vida tem de ter um sentido, eu sou o centro do universo.” Essa ideia é excessivamente egocêntrica. Mas, obviamente, também é angustiante e causa sofrimento. É horrível olharmos para a imensidão do universo e vermo-nos como nada. É horrível, mas talvez seja a verdadeira natureza da vida.
É aqui que entra a busca pelo conhecimento, e o Amor Fati é o que deve dar sentido à existência humana. Devemos procurar o mundo real, enfrentar o abismo existencial, não nos deixarmos cegar por crenças, dogmas ou ideais. Com isto, Camus desenvolve a ideia do suicídio filosófico, que ocorre quando tentamos fugir da realidade de qualquer maneira, incluindo acreditar em falácias ou beber para escapar do mundo real. Isso também pode levar alguém a cometer suicídio. Para Camus, ao cometer esse ato, estás a desistir de buscar a verdade.
Então, agora, respondemos: A vida precisa de um sentido? Para mim, a resposta é: Nim. A vida não precisa de um sentido, mas nada impede que lhe atribuas um. Nenhum destes autores propõe que vivas uma vida em vão, que desistas de pensar, muito menos que desistas da própria vida. Pelo contrário, todos eles procuram a verdade da vida, precisamente por se sentirem angustiados e assustados pela grandeza da existência humana. A angústia existencial faz-nos pensar e refletir. Este é, de facto, o primeiro passo para a existência da filosofia, para a prática filosófica. Mas, acima de tudo, a angústia existencial leva-nos a questionar.
A única coisa que é certa, é que, neste jogo chamado vida, ninguém sairá vivo.
A existência é passageira.
José Alves