Era mais uma noite normal de jogos em família…. Reunidos em torno da mesa de jantar jogávamos ao uno. Na verdade, mais discutíamos do que propriamente jogávamos…. Aquele +2 acaba com qualquer amizade que possa existir, especialmente se for seguido de outro +2, ou pior de um +4.
Enfim…
Porém, chega o momento crítico em que aparece um seis, ou melhor um nove, ou melhor não sei…. E aí é que está o problema: para mim era um seis e para a pessoa à minha frente um nove.
Assim sendo, depois de muita discussão lá conseguimos chegar a um consenso. E, por algum motivo, aquele momento ficou-me na memória…
Dei por mim a pensar no péssimo hábito que temos de julgar a realidade alheia, quando a nossa é completamente diferente.
Tendemos a percecionar o mundo somente através dos nossos olhos. Todavia o mesmo estende-se para lá daquilo que a nossa visão é capaz de captar.
Ao não termos consciência disso recorremos no erro de achar que a vida do outro é sempre melhor do que a nossa… E depois caímos numa hipocrisia…. Gostávamos de ser como ele, mas somos incapazes de colocarmo-nos no lugar dele.
Afinal, comparecer num local público de sorriso rasgado nos lábios, é muito fácil…. Difícil é esconder que quem está completamente rasgado é o coração. E que esse coração parece uma bomba-relógio que a qualquer momento vai rebentar.
Portanto, uma palavra mal dita pode ser o suficiente para nos fazer “perder a cabeça” . Mas quem assiste à situação e não tem conhecimento de todo o contexto envolvente considera aquela reação descabida.
Por outras palavras, uns veem o seis e outros o nove, mas estou certa de que se girassem a carta viriam outro número.
Assim sendo, tentemos rodar mais vezes as cartas.
Atenção: Isto não é sobre cartas!
Beatriz Colaço