A vacina contra o Covid-19 apareceu finalmente, e com ela, veio também a esperança de um futuro em que o mundo possa voltar a ser o que era antes, talvez até melhor, mas no fundo, sei que esta ideia é mera fantasia.
Os anos de 2020 e 2021 serão para sempre recordados como difíceis, um tempo marcado pela doença, pela morte e pela solidão, tempos tão anormais, que nunca na minha vida pensei vir a testemunhar algo deste género.
Assim, no meio de tanta dificuldade, tivemos enquanto espécie, uma oportunidade de provarmos a nós mesmos que somos capazes de melhor, que a ingenuidade e o espírito humano são capazes de enfrentar o maior dos desafios. O covid foi um teste de todas as nossas capacidades, um teste que ainda não terminou, é certo, mas cujo fim está perto. Contudo, admito que embora tenhamos conseguido sobreviver, o nosso desempenho enquanto espécie revelou-se desapontante.
A verdade é que mortes seriam inevitáveis, mesmo que toda a gente tivesse tido bom senso e cumprido à risca a quarentena e o isolamento, a natureza imprevisível de algo como um vírus acabaria sempre por fazer algum dano. Efetivamente, só a criação da vacina é capaz de evitar a morte por estas causas, mas mesmo a medicina é vítima do Homem que deseja usá-la para lucro próprio.
As gerações futuras terão certamente capítulos nos seus livros de história sobre o Covid-19 e como a vacina salvou milhares de vidas, no entanto, tenho esperança que esses mesmos livros expliquem ao certo o que tivemos de enfrentar em vez de mostrar apenas o início e fim deste período. E, embora este não seja um dos piores anos da nossa história, é na mesma importante tirarmos o que podermos destas desavenças, porque nunca se sabe o que o futuro nos aguarda. O passado serve então, como um guia daquilo que pode levar a um resultado mais favorável. Só olhando para trás e refletindo, é que podemos derrubar os obstáculos à nossa frente.
Algo pessimista este meu discurso, admito-o, mas depois de acrescentar que apenas o faço por desejo de aprender com os nossos erros, esperando que ao salientar graves falhas, as possamos corrigir em prol de um bem maior.
Em conclusão, enfrentamos ainda hoje um oponente digno de respeito e temor, pois uma espécie de seres que se consideram racionais, viu-se obrigada a parar por causa de algo microscópico. Se isto não puser a nossa existência noutra perspetiva, então não sei o que o fará.
Rui Soares Pinto