O debate entre Luís Marques Mendes, candidato apoiado pelo PSD, e Catarina Martins, apoiada pelo Bloco de Esquerda, ficou marcado por acusações de instabilidade e por fortes divergências sobre o papel do Presidente da República em matérias laborais. Transmitido pela RTP, o frente a frente integrou o 21.º debate do ciclo das presidenciais e teve como pano de fundo a greve geral do dia anterior.
O pacote laboral do Governo foi o primeiro tema em discussão, com Catarina Martins a defender que o Executivo se colocou num beco sem saída e ficou dependente do Chega, considerando que a proposta deve ser retirada. A candidata do Bloco questionou ainda Luís Marques Mendes sobre as reservas que já manifestou relativamente à lei, desafiando-o a esclarecer o que mudaria. O candidato apoiado pelo PSD respondeu que um Presidente não deve intrometer-se diretamente em negociações, evitando apontar alterações concretas, mas deixou uma farpa ao sublinhar que tem maior probabilidade de ser eleito do que a sua adversária.
Mais à frente, Marques Mendes apresentou sugestões para desbloquear o diálogo entre Governo e sindicatos, defendendo um acordo mais alargado que inclua salários, política de rendimentos, fiscalidade e formação profissional, bem como uma definição clara sobre o uso dos ganhos de produtividade. Catarina Martins recusou comentar essas propostas e afirmou que o pacote laboral é uma questão de regime, por representar uma fragilização profunda dos direitos dos trabalhadores. Aproveitou ainda para questionar a independência de Marques Mendes face ao Governo, alertando para o risco de eleger um Presidente demasiado alinhado com o Executivo.
Em resposta, Marques Mendes pediu à candidata que abandonasse o que chamou de moralismos e defendeu que todos procuram o melhor para o país. Reafirmou-se como candidato da estabilidade e da ambição e recuou a 2022 para acusar Catarina Martins de ter provocado uma crise política ao chumbar o Orçamento do Estado, o que levou à queda do Governo de António Costa. O debate terminou sem aproximações, com ambos a reforçarem leituras opostas sobre estabilidade, trabalho e o papel do Presidente da República.
Beatriz Peixoto