Debate para as presidenciais de 2026- Henrique Gouveia e Melo e António Filipe

Debate para as presidenciais de 2026- Henrique Gouveia e Melo e António Filipe

Um dos temas dominantes do debate foi o conflito da Ucrânia e a busca por um eventual plano de paz. António Filipe, histórico dirigente da esquerda, repetiu o seu posicionamento: “não sou parte dessas negociações”, mas expressou o desejo de “um acordo o quanto antes”. Para Filipe, são os próprios ucranianos e russos, com eventuais mediações internacionais, que devem decidir os termos.

Por seu lado, Gouveia e Melo defendeu que o conflito não é apenas um drama humanitário, mas uma ameaça ao “futuro do sistema internacional” e à estabilidade europeia. Acrescentou críticas fortes à visão do adversário: questionou se António Filipe ainda acredita que o líder ucraniano seria “apoiado por fascistas e neonazis”, e insinuou que essa narrativa seria uma inversão dos factos — lembrando quem invadiu quem.

As divergências entre os candidatos não se limitaram à Ucrânia. Gouveia e Melo defendeu uma visão de compromisso com alianças e segurança internacional, sugerindo que Portugal deveria estar preparado para cumprir obrigações no seio da NATO. António Filipe, por seu turno, sublinhou a importância de Portugal manter “uma voz própria” nas decisões internacionais, rejeitando uma subordinação automática a blocos ou alianças.

Além disso, surgiram acusações mútuas sobre o passado e ideologias. Gouveia e Melo recordou declarações antigas de António Filipe favoráveis ao regime de Fidel Castro , acusando-o de minimizar carácter ditatorial desse regime. Filipe reconheceu ter dito que classificar Castro como “ditador” seria injusto, justificando-se com “relações históricas e diplomáticas” entre os países.

Outro ponto de confronto centrou-se na lei laboral e no modelo económico. Com uma greve geral marcada para 11 de dezembro, Gouveia e Melo apelou a um “novo contrato social”, com “concertação entre Governo, patrões e trabalhadores”, defendendo maior negociação.

António Filipe criticou a proposta como vaga e genérica, acusando o adversário de não apresentar “posições claras” e de explorar divisões políticas. Filipe repisou sua visão de um Estado interventor, próximo dos trabalhadores, criticando modelos do mercado livre sem rede de segurança social.

No decorrer do debate, Gouveia e Melo confrontou diretamente as convicções de Filipe: “Já não é comunista?”, perguntou — ao que Filipe respondeu com ironia: “Eu sou. Não sei é o que o senhor é.” Uma declaração simbólica do fosso ideológico entre ambos. As disposições referentes à Presidência e à sucessão em situação de incapacidade

O confronto não foi apenas sobre políticas públicas: decorreu com forte carga simbólica e ideológica: entre um candidato que se apresenta como comunista convicto e outro que defende uma visão de centro social-democrata, pró-mercado e pró-alianças.

O conflito na Ucrânia e a mudança dos equilíbrios geopolíticos conferiram ao debate uma escala internacional , algo raro em campanhas presidenciais de Portugal.

Texto: Afonso Calvário