Montenegro fecha a porta ao CHEGA.

Montenegro fecha a porta ao CHEGA.

O debate entre Luís Montenegro, líder da Aliança Democrática (AD), e André Ventura, presidente do CHEGA, realizado a 24 de abril de 2025 na SIC, evidenciou uma direita portuguesa profundamente dividida. Apesar de ambos se posicionarem no mesmo espetro político, o confronto foi marcado por acusações mútuas, ataques pessoais e a reafirmação de que qualquer entendimento entre os dois partidos é inviável.

Luís Montenegro iniciou o debate com uma declaração categórica: “É impossível governar com o Chega”, reforçando o seu já conhecido “não é não”. Apresentou três razões para esta posição:

  1. A falta de fiabilidade de pensamento do CHEGA, que classificou como um “cata-vento político”.
  2. O caráter destrutivo do partido, que, segundo ele, critica tudo sem apresentar soluções.
  3. A ausência de maturidade e decência para integrar um governo.

Montenegro exemplificou as suas críticas referindo-se ao programa eleitoral do CHEGA, que, segundo ele, poderia levar o país a um défice de 14%.

André Ventura respondeu com a agressividade que lhe é característica, acusando Montenegro de hipocrisia e de ter falhado nas suas promessas enquanto governante. Lembrou o encerramento de 10 urgências hospitalares durante a Páscoa e apontou o dedo à política de imigração do governo: “Os imigrantes têm prioridade. O seu governo é igual ao do Partido Socialista.” Afirmou que o líder da AD procura apoio apenas de partidos como a Iniciativa Liberal e o CDS, excluindo o CHEGA. Ventura garantiu que o CHEGA não será uma “muleta” para a AD, afirmando: “Você não quer contar com ninguém, mas digo-lhe cara a cara: não contará connosco.”

Para encerrar o tema dos entendimentos, Clara de Sousa lançou a pergunta direta: o Governo propôs ou não uma proposta de integração ao Governo, em troca do Orçamento? A resposta manteve o impasse: Montenegro negou categoricamente qualquer proposta ou negociação com o CHEGA nesse sentido, enquanto Ventura insistiu que tal proposta existiu.

Montenegro destacou o passado de Ventura no PSD, partido que agora critica e diz ter corroborado com 50 anos de corrupção, lembrando que o líder do CHEGA passou 17 anos no PSD. “Andava de bandeirinha na mão e até achava que o melhor líder é o que está à sua frente.” Ventura tentou devolver o ataque, acusando Montenegro de já ter admitido simpatia por si no passado e de “se colar” a campanhas suas. Montenegro rejeitou as acusações, reafirmando a sua coerência política.

A saúde foi um dos temas centrais do debate. Ventura criticou o estado do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e deu o exemplo de uma grávida alegadamente não atendida. Montenegro defendeu-se, dizendo que herdou uma situação de colapso, que há um ano atrás o estado da saúde estava calamitoso, que ainda tem muitas falhas, mas estão a recuperar o SNS. Criticou ainda Ventura por distorcer factos, como no caso de uma grávida alegadamente não atendida, que se veio a revelar falso.

Ventura acusou ainda de termos um primeiro-ministro que bate recordes de nomeações: “É tacho atrás de tacho, a distribuir tacho pelas pessoas.”

A palavra “maturidade” tornou-se, ao longo do debate, uma muleta argumentativa de Montenegro. Repetidamente, o primeiro-ministro acusou Ventura de não ter estofo institucional, nem espírito democrático. “Não tem respeito, não tem estabilidade, não tem maturidade. Não tem sentido das coisas”, afirmou, perante sucessivas interrupções do adversário.

O debate terminou sem qualquer sinal de aproximação entre os dois líderes. O tom foi beligerante do princípio ao fim, com múltiplas interrupções, acusações mútuas de falta de credibilidade e ausência quase total de propostas construtivas. Se havia dúvidas sobre a possibilidade de um entendimento entre AD e CHEGA após as eleições, o debate tratou de as dissipar.

Texto: Beatriz Peixoto