Com Chico Bernardes levitámos e esquecemo-nos de descer

Com Chico Bernardes levitámos e esquecemo-nos de descer

Chico Bernardes regressou a Portugal em abril com o mais recente álbum Outros Fios às costas. Para além dos quatro concertos – Lisboa, Esposende, Porto e Guimarães -, Chico esteve também de passagem por Barcelona e Londres nas primeiras datas da digressão.

Foi no Outsite Mouco, no Porto, que o Alternador esteve à conversa com o cantor e compositor brasileiro. A última vez que esteve no Porto foi em 2020, no Maus Hábitos, e contou-nos como foi estar de volta à cidade, desta vez, noutro espaço: “estava muito confortável, feliz por trazer estas canções de novo para o Porto, por estar com um novo público aqui da cidade e espero voltar muito em breve”.

Outros Fios @ Spotify

O “disco azulão” (Outros Fios), como o apelidou, foi gravado pelo próprio Chico Bernardes no estúdio que construiu em casa durante a pandemia. Ao Alternador revelou que foi um processo experimental demorado e que, apesar de ter sido cozinhado quase inteiramente pelo cantor, pôde contar com a participação do baterista Chris Bear da banda nova-iorquina Grizzly Bear. Os backing vocals da artista mexicana Reno Rojas encorparam os refrões de “Todacor” com bellíssimas harmonias e, ainda, o homem dos sopros em “Metades Minhas”, João Barisbe, que preencheu o instrumental com notas de clarinete e saxofone.

Despido de sons sintetizados e cintilantes – presentes neste último álbum -, o cantor muniu-se de um piano e da guitarra clássica que leva consigo para todo o lado e trouxe ao palco do Outsite Mouco uma setlist que deambulou pelo Outros Fios num formato mais cru e intimista, sem esquecer alguns dos temas do álbum homónimo lançado em 2019.

A iluminação hipnotizante ia “conversando com as músicas” e envolvia o público numa atmosfera cada vez mais aconchegante e introspetiva já muito bem consolidada por Chico Bernardes, seja pela poesia das letras que escreve, seja pela suavidade que traz na voz ou pela leveza que carrega na ponta dos dedos.

E quando achávamos que íamos ficar presos no embalo da brilhante “Sonho Meu”, como se do fim do “disco azulão” se tratasse, o artista voltou ao palco para despedir-se com “Ode à Perfeição”, não deixando margem para dúvidas: todo este concerto foi uma autêntica ode à perfeição. Se uma vez não tinha chegado, com esta última, a plateia sentada ergueu-se de uma vez só e encheu a sala de aplausos e assobios.

Depois de uma semana inteira de estrada, na penúltima data desta digressão, Chico Bernardes recorda todos os destinos que fizeram parte deste ciclo de seis concertos.

A primeira data foi em Barcelona, onde, embora confessa ter chegado “com o corpo muito cansado”, “a experiência com eles [espanhóis] foi muito boa! Falar “portunhol”… Enfim, demos muita risada”, conta bem-humorado.

Foi, pela primeira vez, “picar o ponto” na enigmática Abbey Road, em Londres, cidade que diz ser uma inspiração por ser o berço de músicos que o influenciaram ao longo da vida: “Eu gostei muito porque é um lugar que me inspira muito! Muitos músicos que eu gosto vieram de lá”, partilhou.

Portugal já não é uma novidade nas paragens do cantor, mas também não deixou os elogios de parte: “Lisboa sempre maravilhosa, Esposende foi uma surpresa boa e o Porto também sempre sereno”.

O último concerto da tour aconteceu no segundo sábado de abril (12) no Westway Lab, em Guimarães.

Para o futuro, Chico Bernardes antecipou alguns projetos como produtor: “Há um músico da Coreia do Sul que eu quero produzir e talvez eu produza umas coisas do meu pai – Maurício Pereira – ainda este ano, ajudá-lo com um disco novo.” Revelou ainda ao Alternador que um possível EP pode estar aí à porta com sonoridades mais acústicas, “uma coisa mais voz/violão”, explica, e talvez algumas participações.

No fim da conversa ficou um convite de regresso, não só a Portugal, mas para um sítio que os seus antepassados conhecem bem. Chico tem raízes em Sabrosa, Vila Real, e se a terra chama pelos seus, quem sabe as terras vila-realenses chamem por ele numa próxima vinda.

Madalena Andrade

© Pedro Esteves