O Manchester United, de Ruben Amorim, bateu o Lyon, de Paulo Fonseca, no “Teatro dos Sonhos” e segue para as meias-finais da Liga Europa.
7-6 na eliminatória, com um 5-4 em Old Trafford! O Manchester United, de Ruben Amorim, bateu o Lyon, de Paulo Fonseca, no “Teatro dos Sonhos” e segue para as meias-finais da Liga Europa. Os ingleses estiveram a vencer por 2-0, permitiram a reviravolta dos franceses, mas, num espaço de sete minutos, já no prolongamento, marcaram três golos e garantiram a passagem às “meias”da competição.
O Manchester United, após o empate a duas bolas no jogo da primeira mão, em França, teve o jogo na mão, mas oLyon respondeu e operou a reviravolta no prolongamento, sendo de notar que os franceses também estiveram com a eliminatória na mão com menos um em campo. Contudo, os ingleses, em menos de 15 minutos, conseguiram, mais uma vez, reconquistar a vantagem na eliminatória.
Foi um jogo verdadeiramente épico, sublinhado ainda por dois golos lusos – Bruno Fernandes e Diogo Dalot – e pelo golo decisivo construído pelos dois patinhos feios de Manchester: Casemiro (cruzamento) e Maguire (finalização).
Assim, depois da queda nos “quartos”, há duas épocas, oMan. United volta, assim, a repetir o feito de 2020/21, e está nas meias-finais da Liga Europa. Segue-se o Athletic Club, numa eliminatória em que os ingleses voltam a ter o fator casa na segunda mão.
Ora, relativamente aos onzes iniciais, confirmou-se o regresso de André Onana à baliza, como tinha anunciado o antigo treinador do Sporting CP. Para o lugar do lesionado Joshua Zirkzee, entrou Rasmus Hojlund, ao passo que Dalot e Bruno mantiveram a titularidade. No emblema gaulês, Rayan Cherki, Georges Mikautadze e Thiago Almada continuaram na frente de ataque.
Foi com uma longa tarja com a inscrição “Never gonna stop!” (“Nunca vais parar!”), a lembrar as conquistas europeias do passado, e muito fogo de artifício que Old Trafford recebeu os protagonistas.
Posto isto, com a época do United a depender da Liga Europa, não era exagero dizer que este jogo era o tudo ou nada para os homens de Ruben Amorim. E, de facto, Old Trafford voltou a ser o “Teatro dos Sonhos” durante, sensivelmente, 70 minutos, no que terá sido a melhor exibição – ou pelo menos lá perto – do Manchester United de Ruben Amorim.
Ora, durante esses tais 70 minutos, o Man. United foi uma equipa com objetivos sérios, tendo aberto o marcador logoaos 10 minutos. Noussair Mazraoui lançou Bruno Fernandes pela direita, e o capitão dos “Red Devils” encontrou Alejandro Garnacho, que rompeu e cruzou rasteiro para Manuel Ugarte rematar com precisão para o fundo das redes da baliza de Lucas Perri.
Este lance do 1-0 foi mesmo uma das melhores jogadas desde a chegada de Amorim, adicionando uma versão pouco vista de Garnacho, que realizou um dos melhores jogos a nível individual nos últimos tempos. Em campo aberto, é explosivo no drible (mudanças de velocidade e direção) e nas ruturas (sentido de baliza). Hoje, conseguiu associar a isso boa tomada de decisão, assim como uma boa temporização com bola e uma ótima definição na hora do passe.
A pressão alta por parte da formação inglesa quase deu origem a um segundo golo, quando Garnacho roubou a bola e deu para Casemiro, mas o remate do brasileiro foi desviado por Lucas Perri. O Lyon demorou a engrenar, e a primeira oportunidade surgiu apenas a meio da primeira parte, com um cabeceamento de Paul Akouokou que o regressado André Onana defendeu de forma brilhante.
Todavia, Rayan Cherki, um dos craques da formação gaulesa, estava cada vez mais presente no jogo, passando pela retaguarda do United e rematando para o golo, só queOnana voltou a mergulhar para a direita para fazer a defesa.
Bruno Fernandes também esteve perto de fazer um autêntico “golaço”, com um remate audacioso, depois de ter sido servido por Diogo Dalot, mas a trave negou-lhe o golo.
Sem se deixar abalar, o United manteve o ritmo e terminou o primeiro tempo de forma perfeita, dobrando a vantagem depois de Dalot ter dominado o passe longo de Harry Maguire e disparado para o canto oposto. Estava feito o 2-0, mesmo à beira do regresso aos balneários.
Ao intervalo, Amorim lançou o regressado Luke Shaw por troca com Mazraoui e, na primeira jogada de perigo, Garnacho passou por Clinton Mata e, com tudo para faturar, atirou contra Perri, numa jogada que poderia ter sentenciado a eliminatória.
Na resposta, Tolisso apareceu a finalizar dentro da área, mas Onana voltou a negar o golo ao conjunto de Fonseca, que lançou de imediato Tanner Tessmann e Alexandre Lacazette.
Pouco depois, Dalot voltou a aparecer com perigo na área adversária, cruzou atrasado e, depois de dominar, Patrick Dorgu finalizou por cima. Com o Man. United cada vez mais confortável, o técnico do Lyon voltou a mexer no ataque, com Malick Fofana a render Mikautadze.
Ainda assim, os franceses foram felizes numa altura em que até estavam algo abaixo na partida: a bola viajou até à área, Moussa Niakhaté ganhou de cabeça, Lacazette também venceu o duelo nas alturas e assistiu Tolisso que, também de cabeça, reduziu a desvantagem, à passagem do minuto 71.
Os “Les Gones” aproveitam o ímpeto para pressionares os “Red Devils” e quase foram felizes logo a seguir, com Onana a colecionar mais uma defesa. Depois do primeiro aviso, Fofana cruzou da esquerda para o segundo poste, Maitland-Niles desviou de cabeça para o poste mais distante, onde Tagliafico apareceu a finalizar para o golo do empate, aos 78 minutos.
O Lyon ressurgiu mesmo “dos mortos” e há que dar mérito a Paulo Fonseca, que utilizou muito bem o seu banco. Malick Fofana veio trazer problemas a Dalot, Tessmann mais qualidade a meio-campo e Lacazette… bem, é Lacazette, um dos melhores avançados da Ligue 1.
Com a eliminatória de novo empatada, Amorim voltou a recorrer ao banco para refrescar a equipa com Kobbie Mainoo e Mason Mount. Até ao apito final do tempo regulamentar, apenas tempo para Tolisso ver o segundo cartão amarelo por falta sobre Leny Yoro, deixando a sua equipa reduzida a 10 jogadores.
No prolongamento, o cansaço começou a apoderar-se dos jogadores e nem as entradas de Harry Amass e Christian Eriksen revitalizaram um Man. United que não fez notar a superioridade numérica. Bem pelo contrário.
No último minuto da primeira metade do tempo-extra, Fofana arrancou pela esquerda, conduziu até à área e acabou desarmado por Dalot. Contudo, a bola sobrou para Cherki que, à entrada da área, preparou o remate e colocou a bola fora do alcance de Onana.
Deixem-me, também, dizer que Cherki, se quiser e escolher bem o próximo clube, estará na luta pela Bola de Ouro nos próximos anos. Faz tudo parecer fácil, seja na ala, seja aberto, seja no 1vs1, seja no passe, seja a definir ou a rematar. Impressionante.
Pouco depois, já na etapa final, Shaw derrubou Fofana dentro da área e, na cobrança da grande penalidade,Lacazette enganou Onana e fez o 2-4, aos 110’.
Os papéis inverteram-se e, depois de Thiago Almada ter carregado Casemiro em falta na sua área, Bruno não desperdiçou e relançou a partida e a eliminatória (114’).
Pouco depois, o médio português encontrou Casemiro à entrada da área, o brasileiro entregou de pronto em Mainoo que, depois de simular o remate, atirou a contar para novo empate, em cima do minuto 120. Como se não bastasse, no culminar de uma noite épica, Casemiro voltou a cruzar para a área, Niakhaté deixou a bola entrar ao segundo poste e, completamente sozinho, Maguire fez o 5-4, aos 120+1′.
Muito curioso o facto de o Man. United ter passado, desta forma, de uma das derrotas mais humilhantes da sua história, para uma reviravolta e uma consequente vitória épica (das mais frenéticas dos últimos tempos, também)no espaço de apenas sete minutos.
Há, por isso, finalmente um sorriso na face de RubenAmorim! A angústia estava em campo já há demasiado tempo. Era altura de ser substituída pela felicidade. Nem que seja preciso esperar 120 minutos e suportar uma reviravolta em superioridade numérica.
Em suma, nota-se que, apesar de o United continuar sem qualquer consistência e coesão do ponto de vista defensivo, é uma formação que começa a ter o “coração” de uma equipa de Amorim. Agora, terá de investir a sério nesta Liga Europa. Pode “salvar” uma época e alimentar o projeto.
Quanto ao Lyon, de Paulo Fonseca, mesmo com esta derrota tremendamente dolorosa, continua a ser uma das equipas que, neste momento, mais prazer me dá ver jogar. Bom trabalho do técnico luso ao potenciar, em temos coletivos, o talento individual que dispõe, e que não merecia despedir-se da Liga Europa de uma maneira tão cruel.
Mas o futebol é assim. E é por isso há tantos amantes à volta dele. E é por isso mesmo que é tão lindo.
Texto: Raúl Saraiva
Imagens: Twitter Man United