Pedro Nuno Santos sacou da “motosserra liberal” virando o feitiço contra o feiticeiro. Já Rui Rocha agarrou-se ao “bolo” que quer fazer crescer num frente-a-frente onde até a alopecia serviu de metáfora política.
Num debate de choque ideológico puro fica sempre a curiosidade para ver quem domina a narrativa e consegue fazer o melhor contraste entre as suas ideias e a do outro interlocutor. O frente-a-frente começou com Rui Rocha a não ser claro em relação a um possível entendimento com a AD, no pós 18 de maio. O líder dos liberais gastou apenas 20 segundos a comentar o que nos trouxe a eleições e cenários futuros. Pedro Nuno Santos não deixou passar o “desconforto” de Rui Rocha ao falar do tema e salientou que as questões de ética e seriedade são importantes. (“O governo começou a legislatura com um truque no IRS e agora termina com outro truque.”).
O secretário-geral do Partido Socialista seguiu a intervenção tentando continuar o apelo que vem feito nos últimos meses ao voto útil. O foco está em ficar em primeiro e esperar que a AD viabilize um governo minoritário à semelhança do que fez o PS no último ano.
Durante a intervenção seguinte de Rui Rocha, o mesmo mostrou-se bastante periclitante, evitando falar sobre o governo de Milei, na Argentina, um dos grandes ídolos de boa parte dos militantes liberais (alguns apresentaram-se de motosserra na convenção do partido imitando o presidente argentino). Há uma passagem curiosa onde Rui Rocha diz querer aproveitar aquele momento para fazer “serviço público” e o moderador remata com um “está no sítio certo (RTP)”. Rui Rocha tentou contornar o elefante na sala falando do tempo de Pedro Nuno Santos como ministro das infraestruturas e habitação, mas lá acabou por responder dizendo: “A Argentina está do outro lado do mapa, o meu liberalismo é um liberalismo europeu.”
Pedro Nuno Santos aproveitou o início da sua intervenção seguinte para se defender das acusações de inação e falta de obra feita enquanto ministro, neste segmento que pareceu uma reedição do debate do ano passado entre ambos.
“Quando eu ouço o doutor Rui Rocha a dizer que quer fazer avançar Portugal, acho que ele quer é fazer avançar Portugal contra uma parede”, atirou o líder socialista, tentando provar que a IL é radical, fazendo o papel de moderado. Rui Rocha respondeu com a TAP e afirmou que ao ritmo do lucro registado “demoraria 60 anos” para a empresa devolver os 3,2 mil milhões de euros que os contribuintes injetaram na companhia.
Na habitação o diagnóstico foi igual de ambos, concordaram que a AD “agravou” a situação nesta área. Rui Rocha defendeu uma redução fiscal indiscriminada (para todas as habitações) para estimular a construção, Pedro Nuno defendeu uma baixa de impostos no IVA para a construção para a classe média.
Pedro Nuno Santos interveio a seguir para salientar a proposta “curiosa” inscrita no programa dos liberais de criar uma nova estrutura para melhorar a eficiência do estado e “eliminar redundâncias”, vinda de um partido que quer eliminar essas mesmas estruturas. Esse cargo assemelha-se ao cargo desempenhado por Elon Musk no executivo americano até ao seu recente afastamento. O secretário-geral do PS continuou por dizer que o programa dos liberais “não bate a bota com a perdigota” na medida em que quer reduzir os impostos e manter o investimento em saúde, educação, defesa e segurança social, com uma compensação de apenas cerca de 30% de recuperação de receita com o crescimento económico a que essas medidas (redução de impostos) poderiam levar.
“Pedro Nuno Santos tem uma visão de um bolo pequeno e esse bolo continua sempre pequeno e é por isso que as previsões de crescimento do PS não passam os 2%”, ripostou Rui Rocha. O objetivo dos liberais é fazer “o bolo crescer” acusando o PS de querer baixar o IVA, à semelhança da IL, mas ficando aquém. (“Pedro Nuno Santos aprendeu a melodia, mas não aprendeu a letra”).
“A iniciativa liberal apresenta reduções fiscais para tudo, é a solução mágica, se perguntarmos a Rui Rocha como é que se resolve o problema da calvície em Portugal ele dirá “baixando um imposto “”. Foi esta a tirada de Pedro Nuno Santos que mais frisson causou. Rui Rocha respondeu dizendo que o líder do PS atuaria com “mais estado” para “resolver esse problema”.
Texto: Tiago Santos