Expresso Político – Semana 1-7 de dezembro

Expresso Político – Semana 1-7 de dezembro

Os temas da aceleração do crescimento económico português face ao abrandamento global, a escalada diplomática na Venezuela, a evolução da guerra na Ucrânia e as reformas internas, da política migratória ao pacote laboral, marcaram a semana nas áreas da política e economia.

No relatório Perspetivas Económicas, divulgado em Paris pela OCDE, Portugal surge em destaque para 2026, com uma previsão de aceleração do crescimento económico de 1,9% em 2025 para 2,2% no ano seguinte, antes de recuar para 1,8% em 2027. Segundo a organização, o “crescimento sustentado dos salários” e um mercado de trabalho “robusto” deverão alimentar o consumo num contexto em que “a inflação e os custos da dívida permanecerão moderados”. O cenário contrasta com as previsões para a economia mundial, que deverá abrandar de 3,2% em 2025 para 2,9% em 2026, recuperando timidamente para 3,1% em 2027, refletindo tensões geopolíticas e a fragilidade do comércio internacional.

No plano internacional, a tensão continua a aumentar na Venezuela. Donald Trump afirmou que os Estados Unidos poderão iniciar ataques terrestres “muito em breve”, endurecendo o discurso contra o regime de Nicolás Maduro e alargando as críticas à Colômbia, acusada de produzir e exportar cocaína. A situação levou várias companhias aéreas a suspender voos para Caracas, num ambiente de crescente insegurança. A morte em custódia do opositor Alfredo Díaz intensificou as críticas de organizações internacionais, que apontam para um agravamento da repressão política no país.

Na Ucrânia, o Parlamento aprovou o orçamento para 2026, que destina 27% do PIB à defesa, refletindo a continuidade do esforço de guerra. Em Bruxelas, a Comissão Europeia apresentou um pacote de 90 mil milhões de euros para apoio a Kiev, financiado por ativos russos congelados ou emissão conjunta de dívida. Portugal manifestou apoio político à proposta, mas afastou um aumento significativo da sua contribuição devido a limitações orçamentais.

No plano interno, o Governo aprovou três diplomas estruturais que visam acelerar a digitalização do Estado, incluindo a capacitação digital da população, a adoção de inteligência artificial nos serviços públicos e medidas de simplificação administrativa. O Executivo apresenta esta reforma como um passo essencial para modernizar a administração pública e preparar o país para os desafios tecnológicos da próxima década.

Foi igualmente aprovado um novo regime para o retorno de imigrantes em situação irregular, agora em consulta pública. O Governo descreve-o como “a última grande peça legislativa” da reforma da política migratória. A discussão coincide com o aumento de relatos de xenofobia, sobretudo contra cidadãos brasileiros, reacendendo o debate sobre integração, discurso público e responsabilidade institucional.

A semana ficou ainda marcada pela tensão em torno da reforma laboral. A UGT e a CGTP convocaram uma greve geral para 11 de dezembro, a primeira desde 2013, com a adesão de vários sindicatos, prevendo-se impacto nos transportes, escolas e saúde. Os sindicatos consideram que o pacote laboral fragiliza direitos e agrava a precariedade. O Governo rejeita essa leitura: a ministra do Trabalho afirma que nenhuma das alterações propostas “facilitará despedimentos”, defendendo que o processo negocial ainda está em curso e que o pacote pretende modernizar o mercado de trabalho sem comprometer garantias fundamentais.

Texto: David Silveira