Seguro vs Jorge Pinto marca divergências estratégicas e convergências temáticas na pré-campanha presidencial

Seguro vs Jorge Pinto marca divergências estratégicas e convergências temáticas na pré-campanha presidencial

O frente a frente televisivo entre António José Seguro, candidato apoiado pelo PS, e Jorge Pinto, candidato apoiado pelo Livre, transmitido pela RTP no âmbito da pré-campanha para as presidenciais de 18 de janeiro, evidenciou simultaneamente diferenças estratégicas entre os dois candidatos e convergências em áreas-chave como trabalho, saúde e imigração.

O debate iniciou-se com votos de rápidas melhoras ao Presidente da República, hospitalizado no Porto após indisposição, mas rapidamente evoluiu para a questão da relação entre as candidaturas à esquerda. Jorge Pinto acusou Seguro de ter “deturpado” declarações sobre uma eventual desistência e criticou a ausência de diálogo prévio entre forças de esquerda antes do anúncio das candidaturas. O candidato do Livre sublinhou que a sua candidatura é “distintiva” e recordou divergências antigas relativas ao período em que Seguro liderou o PS, em particular a chamada “abstenção violenta” no Orçamento do Estado para 2012.

Seguro rejeitou as críticas, defendendo que avançou com a candidatura por iniciativa própria, sem acordos partidários, e afirmou que os partidos “não têm o condomínio das eleições presidenciais”. Sublinhou ainda que, enquanto líder da oposição durante o período da troika, impediu que setores da direita inscrevessem na Constituição limites ao endividamento e ao défice, considerando ter agido “em defesa do interesse nacional”.

A discussão sobre legislação laboral foi um dos momentos de maior convergência. Ambos os candidatos criticaram a proposta de revisão do Governo, considerando que desequilibra a relação entre trabalhadores e empregadores. Seguro admitiu ter uma “clara inclinação” para não aceitar o diploma caso lhe chegue a Belém, enquanto Jorge Pinto declarou que o vetaria politicamente e o enviaria ao Tribunal Constitucional.

Outro ponto de desacordo significativo surgiu na revisão constitucional. Jorge Pinto defende a possibilidade de dissolução do Parlamento caso seja aprovada uma revisão constitucional “drástica” apenas pela direita, posição que Seguro classificou como “irresponsável”. Para o socialista, “não há nenhum problema no país que não possa ser resolvido com a atual Constituição”.

No setor da saúde, ambos defenderam reforços no Serviço Nacional de Saúde e mecanismos de prevenção da fraude, embora com críticas distintas às políticas do Governo. Seguro questionou a necessidade de criar uma nova comissão de combate à fraude, enquanto Jorge Pinto apontou para o atraso na implementação do plano governamental para o SNS.

Sobre imigração, o consenso foi novamente visível. Jorge Pinto lamentou o “clima envenenado” que, afirma, dominar o debate público, defendendo uma visão da imigração enquanto oportunidade. Seguro concordou que o país precisa de imigração, salientando, porém, a necessidade de processos regulados de entrada, acolhimento e integração.

Na parte final, o debate regressou ao tema da distribuição do voto à esquerda. Seguro alertou para o risco de a segunda volta ser disputada apenas por candidatos de direita e apelou à “convergência” dos eleitores progressistas na sua candidatura. Jorge Pinto reafirmou que não desistirá: “Vou até ao fim porque sei o que farei como Presidente da República.”

O debate encerrou com ambos a reiterarem respeito mútuo, mas mantendo claro o contraste entre as suas estratégias para garantir presença da esquerda na segunda volta das eleições presidenciais.

Beatriz Peixoto