Cotrim mais seguro, Gouveia e Melo cauteloso: o balanço do terceiro debate presidencial

Cotrim mais seguro, Gouveia e Melo cauteloso: o balanço do terceiro debate presidencial

Assistimos ontem ao terceiro debate da campanha para as presidenciais de janeiro entre João Cotrim de Figueiredo e Henrique Gouveia e Melo. Num momento em que Cotrim de Figueiredo surge em quarto lugar nas sondagens, ultrapassando António José Seguro, o confronto decorreu sem momentos explosivos: ambos tiveram espaço para expor ideias, críticas e visões.

A discussão arranca pelo tema da independência. Cotrim de Figueiredo garante que, apesar do passado partidário, nunca cedera a pressões e afirmou: “a independência não se proclama, observa-se, pratica-se”. Desafiou ainda o adversário a dizer-lhe, “olhos nos olhos”, se o considera um “cavalo de Tróia”, como já tinha dito anteriormente. Gouveia e Melo insistiu que um candidato em que se reconheça o passado partidário está condicionado e sublinhou que “a Presidência da República não é um conselho de administração”. Cotrim retrucou lembrando apoios de diferentes quadrantes, recusou que militar num partido antes da candidatura seja “cadastro” e apontou que não tem na sua candidatura altos dirigentes da “máquina partidária”, nem estruturas que descreveu como ligadas à propaganda de José Sócrates ou a sociedades discretas como a maçonaria.

Seguiu-se a questão da justiça: em foco, as escutas ao ex-primeiro-ministro António Costa no âmbito da operação “Influencer”. Ambos os candidatos qualificaram o episódio como “muito grave”. Cotrim exigiu ao Ministério Público explicações rápidas alegando que “não acredita em coincidências”. Gouveia e Melo questionou “Que justiça é esta? A justiça não cumpre a justiça?”, sugerindo a hipótese de segredos de Estado terem sido revelados.

No tema da TAP e da privatização, Gouveia e Melo disse que importa uma companhia que garanta os interesses nacionais e que tal não exige obrigatoriamente ser estatal. Cotrim contrapôs que vários países desenvolvidos gerem os seus interesses sem uma companhia de bandeira e defendeu que o Estado só deveria intervir em rotas não rentáveis ou de serviço público. Quanto à legislação laboral e à greve geral convocada, Cotrim manifestou-se seguro em promulgar o diploma, defendendo que ele “beneficia quer trabalhadores quer empresas” e visa aumentar empregos e salários. Gouveia e Melo admitiu a necessidade de maior flexibilidade, mas alertou que os direitos mais centrais dos trabalhadores não podem ser atacados.

Na questão da defesa e de eventual envio de militares portugueses à Ucrânia, Cotrim confirmou que Portugal “deve respeitar os compromissos com a NATO” embora considere improvável esse envio. Gouveia e Melo partilhou o apoio à aliança mas defendeu que a presença militar portuguesa deve ficar no espaço atlântico e alertou que, se a Europa se afastar dos Estados Unidos, “teremos um problema de segurança”.

No minuto final, Cotrim escolheu como “maior mentira” sobre si a ideia de que não é independente, apresentando-se como “vacina contra o pessimismo e o medo do futuro”. Gouveia e Melo admitiu que a narrativa falsa de que “um ex-militar representa um perigo para a democracia” o incomoda, reforçando que está na corrida para garantir segurança, estabilidade e desenvolvimento.

A recepção pós debate deu uma vitória clara: João Cotrim de Figueiredo foi amplamente considerado mais seguro e preparado, recolhendo notas entre 14 e 15 valores no Observador e entre 13 e 14 valores na CNN Portugal. Já Henrique Gouveia e Melo recebeu classificações mais baixas, oscilando entre 11 e 13 valores no Observador e entre 10 e 13 valores na CNN Portugal.

Texto: David Silveira