Mudança de forças no Minho – ano atipico no campeonato

Mudança de forças no Minho – ano atipico no campeonato


Este ano observou-se uma grande mudança nas dinâmicas da liga portuguesa, pelo menos fora do top-3 (esse se mudar é milagre). O referido aqui é a luta por um lugar nas competições europeias, com as equipas já acostumadas a esses lugares a passarem por épocas diga-se “estranhas” e alguns novos emergentes (não tão novos assim).
O tema deste texto é as equipas do Minho, que mudaram todas de uma forma bastante visível de um ano para o outro, à exceção do AFS, que continua a amargurar o último lugar na tabela classificativa, com dois pontos em nove jogos.


O que se passa com o dérbi do Minho?
O Braga e o Vitória de Guimarães têm, por norma, sido os principais ocupantes do quarto e quinto lugar do campeonato, respetivamente. No entanto, este ano ambos ocupam posições abaixo do que estão habituados, com até possíveis mudanças no comando técnico à vista.


Braga
Habituamo-nos a ver os guerreiros do Minho a participar na Liga Europa todos os anos, de vez em quando chegando até mesmo à Champions. Mas este ano a equipa mostra duas faces bastante diferentes, com uma forma impressionante a nível europeu mas com resultados não positivos a nível interno.
Carlos Vicens, que está a fazer o seu primeiro trabalho a nível de treinador principal, chegou ao Minho com ideias já bastante reconhecidas a nível europeu: afinal de contas, era simplesmente o adjunto de Pep Guardiola no Manchester City, que é um exemplo de sucesso nos últimos anos.
O foco do novo treinador é um futebol principalmente para o lado atacante, com altas percentagens de posse de bola e uma pressão feita de forma a sufocar o adversário. No entanto, os problemas a nível defensivo observados no Braga nas épocas anteriores mantiveram-se, com a equipa a sofrer muitos golos, para além da quantidade de defesas feitas pelo seu guarda-redes, Lucas Hornicek, que tem estado em grande plano.
Algumas das principais contratações feitas no mercado de verão ainda não mostraram ao que vieram: Mário Dorgeles, onde foram gastos 11 milhões, apresenta uma grande quantidade de problemas físicos, não tendo mostrado ainda muito futebol. Já Pau Victor, contratação mais cara da história do clube, mostra grandes deficiências a nível da sua principal função, marcar golos.
Na defesa, Gustaf Lagerbielke já melhorou a qualidade com bola nos pés, trazendo no entanto problemas com a sua pouca velocidade. Observou-se, no entanto, a chegada de Leonardo Lelo, que se tornou rapidamente um dos melhores laterais do campeonato, sendo o segundo melhor assistente da liga e trazendo segurança na sua zona.
Mas resumindo, afinal como anda a forma do Braga? A nível das competições internas encontra-se neste momento em sétimo lugar, com derrotas em casa contra equipas como o Nacional e o Gil Vicente. Na outra face, a nível europeu, o futebol e os resultados são totalmente diferentes, tendo três vitórias à terceira jornada, garantindo quase já praticamente um lugar, no mínimo, nos play-offs.


Vitória SC
Os vitorianos nos últimos anos viram a sua equipa em palcos europeus, quer fossem nas qualificações para entrar na Conference League, quer fosse já na própria fase de liga da mesma competição, onde em 24/25 conseguiram ficar no top-8.
Por outro lado, a equipa foi desmontada na última época, com grande parte dos destaques da campanha europeia a serem vendidos por preços não muito altos e substituídos por peças nem sequer perto da mesma qualidade. Com isto, a equipa não conseguiu o seu já querido quinto lugar do campeonato, não indo à Europa na atual época.
Com o início de um novo campeonato, chegaram também as mudanças no comando técnico no Vitória, que já é reconhecido como um dos clubes em Portugal que mais despede treinadores, principalmente nos últimos anos, em que não consegue encontrar estabilidade em relação aos mesmos. Este ano veio Luís Pinto, que subiu o Tondela à primeira liga na época anterior, sendo o vencedor da segunda liga.
As contratações vitorianas no mercado de verão não foram uma boa resposta às perdas dos melhores jogadores: Saiu Händel, âncora do meio-campo, e saíram vários jogadores a nível defensivo, que foram repostos com um nível de qualidade muito abaixo do anterior (Toni Borevkovic, que era o melhor central da equipa, saiu, sendo contratado Rodrigo Abascal ao Boavista, por exemplo).
A nível do campeonato, o Vitória encontra-se em grandes dificuldades, pelo menos tendo em conta os últimos anos de lugares europeus, estando em 11º no campeonato, com alguns resultados bastante negativos.

Os novos “insurgentes”
Com a queda das duas equipas mais reconhecidas no Minho, apareceram novos concorrentes aos lugares europeus, que por sinal, são três equipas exatamente da mesma região


Gil Vicente
Estamos a falar da equipa com o melhor rácio a nível do futebol praticado em relação ao orçamento, no campeonato. Encontram-se em quarto lugar, a incríveis seis pontos da liderança, tendo apenas perdido frente ao Porto e ao Benfica, à 10º jornada.
César Peixoto, treinador dos gilistas, pegou na equipa perto do final da época anterior, com o objetivo de garantir a permanência, objetivo conquistado bastante facilmente, e já mostrando alguns traços de bom futebol. No entanto, a equipa reinventou-se totalmente para esta nova época, praticando um futebol bastante vistoso e virado para o ataque, mostrando que Peixoto continua a fazer bons trabalhos a nível de clubes.
O principal destaque da equipa vai para Pablo Felipe. O avançado brasileiro, vindo do Famalicão no mercado de verão, é o melhor marcador do campeonato, em conjunto com Pavlidis, ambos com 8 golos marcados, sendo ele a principal esperança de pontos da equipa jornada após jornada.


Famalicão
Já fazem alguns anos desde que o Famalicão subiu à primeira liga. Desde aí estabeleceram-se como um exemplo a nível de gestão de clube dentro do futebol português, focando-se no desenvolvimento de uma muito boa formação e vendendo a preços altos os seus melhores jogadores, garantindo responsabilidade financeira e mantendo o bom nível da equipa.
Nos últimos dois anos, o Famalicão já admitiu o objetivo de chegada à Europa, mas na última época, depois de alguns percalços, não chegaram ao tão ambicionado objetivo, tendo até ficando bastante afastados.
Mas esta época parece diferente, com a equipa a ser uma rocha nos jogos caseiros e a também conseguir bons resultados fora de casa, com Hugo Oliveira ao leme da equipa, encontrando-se neste momento em quinto lugar, três pontos atrás do Gil Vicente.
O principal destaque da equipa é o mesmo das últimas épocas: Gustavo Sá. O internacional sub-21 continua a desfilar em campo com um futebol que já merecia voos muito mais altos.


Moreirense
A equipa de Moreira de Cónegos, que normalmente admite que o objetivo é a permanência, este ano está a exceder-se com um ótimo sexto lugar à 10º jornada.
Muitos de nós já provavelmente viu o Moreirense jogar este ano, devido à parceria com a TVI (todos os jogos em casa são transmitidos em canal aberto), e com isto temos uma pequena noção do futebol praticado de forma exímia pela equipa liderada por Vasco Botelho da Costa, treinador novo na primeira liga vindo de um bom trabalho no Alverca, subindo-os para o principal escalão do futebol português.
Um dado importante a destacar nesta equipa é a sua forma a jogar em casa: são a terceira melhor campanha a jogar no seu próprio terreno com quatro vitórias em cinco jogos. Assim, parece que a TVI soube escolher bem a equipa para transmitir os jogos.
O destaque da equipa vai para Guilherme Schettine, que já vai com bons números, com os seus 7 golos, ele que já estava na equipa na época anterior mas nunca tendo um rendimento sequer parecido.


Existem previsões?
No futebol tudo pode mudar de um momento para outro (tal como noutros desportos, obviamente). Mas a manter-se esta má forma dos dois rivais do Minho e a boa forma das três surpresas deste ano, podemos esperar um novo participante na Conference League na próxima época.
Neste momento a equipa que parece mais ligada a esse objetivo é o Gil Vicente com os seus incríveis resultados, mas também não se pode deixar de fora o resto do Minho que está sempre no retrovisor dos comandados de César Peixoto.

Texto: Bruno Gomes