
Foste a cidade que escolhi, e, por mais estranho que pareça, senti que passei a maior parte do meu tempo a sonhar na possibilidade de te deixar.
Cheguei e pintei-te como um autêntico conto-de-fadas porque me apaixonei pela vivacidade das cores pintadas nas promessas silenciosas das tuas pequenas ruas. No entanto, na tentativa de me encaixar num lugar onde nunca verdadeiramente pertenci, essa paixão diluiu-se e, aos poucos, afoguei-me no teu filtro a preto e branco.
Durante três anos, olhei para o encanto do teu céu estrelado e perguntei-me, vezes sem conta, se este era, de facto, o caminho certo. Acredita que se pudesse voltava atrás apenas para dizer ao meu “eu” de outrora que, às vezes, as coisas não melhoram, pois era essa a honestidade que eu precisava de ouvir.
Tenho de admitir que foste uma autêntica montanha-russa de emoções. Perdi-me. Encontrei-me. E nesse processo, compreendi que ninguém — nem nada — deve ter o poder de me fazer sentir pequeno. Contigo, também aprendi que o mundo é muito maior do que as tuas ruas estreitas, e o verdadeiro significado de crescer e amadurecer, mesmo sem estar preparado para aceitar tudo o que tinhas para me dar.
Talvez esse tenha sido o verdadeiro custo da minha licenciatura. E, ainda que sejas a mais bonita consequência de um efeito borboleta, o facto de ter apenas sobrevivido — quando queria viver — vai assombrar para sempre os meus sonhos mais lúcidos.
Hoje escrevo-te este desabafo na esperança de que, um dia, me perdoes por nunca te ter chamado “casa”. Mas há algum consolo em saber que, provavelmente, não fui o único a sentir isto. Afinal, um mau capítulo não torna o livro inteiro menos valioso, isso apenas significa que ainda há páginas por escrever.
Podes não ter sido a mais bela das histórias que tenho para contar, mas tens um encanto que nenhuma outra cidade poderá replicar. E embora não te consiga prometer que voltarei, sei que deixei uma parte de mim contigo — assim como levo um pedaço de ti comigo.
Com amor, Ivo.
Ivo Pereira