Mundial de clubes 2025 – A travessia dos gigantes

Mundial de clubes 2025 – A travessia dos gigantes


O Mundial de Clubes da FIFA está prestes a começar e, com isso, a viver uma revolução inédita. A competição, que até agora seguia um formato relativamente simples e anual, passa a integrar um novo modelo que promete mexer com a estrutura do futebol de clubes mundial. Em 2025, o torneio conta com 32 equipas, um número que aproxima este evento de uma verdadeira “Liga dos Campeões global” de clubes, com maior dimensão e prestígio, mas também desafios acrescidos.

Deste modo, no coração do verão americano, sob o céu vasto e azul da Flórida e do Nordeste dos Estados Unidos, um novo capítulo do futebol mundial está, então, prestes a ser escrito. O Mundial de Clubes da FIFA, agora reinventado e alargado, ergue-se como uma colcha de retalhos que junta os mais distintos e brilhantes emblemas do planeta.

De Lisboa e Porto, de águias e dragões, os clubes portugueses preparam-se para uma viagem épica, onde cada passe, cada golo e cada defesa serão pinceladas numa tela que pretende celebrar o futebol num espetáculo nunca antes visto. Entre a excitação dos jovens promissores e o peso das estrelas veteranas, o mundo assiste, ansioso, ao despertar de uma competição que promete redefinir para sempre a ideia de “campeão do mundo”.

O novo formato da competição: muito para além de um torneio anual

Ora, até 2024, o Campeonato do Mundo de Clubes da FIFA era disputado anualmente, envolvendo principalmente os vencedores das grandes competições continentais, num modelo relativamente curto, com poucos jogos e menos equipas. Com a mudança para este formato de 32 clubes, o torneio vai desenrolar-se num sistema com fases de grupos e eliminatórias, semelhante ao formato usado em algumas provas internacionais de seleções.

Neste caso, as 32 equipas são divididas em oito grupos de quatro, onde cada clube defronta os restantes do seu grupo uma vez, perfazendo três jogos nesta primeira fase. Os dois primeiros classificados de cada grupo seguem para os oitavos de final, que dão início à fase a eliminar, composta por jogos únicos até à final. Este formato implica mais jogos, mais competitividade e uma maior exposição para os clubes.

Outro aspeto importante é a regra de que, no sorteio da fase de grupos, não terem podido estar no mesmo grupo equipas da mesma federação nacional, com exceção do que acontece em algumas formações da UEFA, que possuem regras específicas. Isto significa que, por exemplo, os clubes portugueses, SL Benfica e FC Porto, não se podem encontrar já na fase de grupos, garantindo que cada um enfrenta adversários diferentes.

A alteração também afeta o calendário: o Mundial de Clubes deixa de ser anual e passa a realizar-se de quatro em quatro anos, alinhando-se com ciclos mais largos e assumindo uma importância ainda maior. A próxima edição deste novo formato está marcada para 2029.

Qualificação: como chegaram as equipas a este Mundial?

Posto isto, as 32 equipas presentes qualificaram-se por vários critérios. Em primeiro lugar, entram os vencedores das principais competições continentais de clubes realizadas entre 2021 e 2024, garantindo assim uma forte representação dos campeões de cada confederação. Depois, outras vagas são preenchidas por equipas que se destacaram nos rankings continentais, mantendo um equilíbrio entre regiões.

A UEFA, que detém o maior número de vagas, coloca 12 equipas, face à sua superioridade competitiva e número de clubes de topo. A CONMEBOL, com o seu futebol sul-americano tradicionalmente muito forte, assegura seis lugares. As outras confederações – AFC (Ásia), CAF (África), CONCACAF (América do Norte e Central) e OFC (Oceânia) – têm quatro vagas cada, com a OFC a ter apenas uma.

Há ainda uma vaga garantida para o país anfitrião, que em 2025 é os Estados Unidos da América, com o Inter Miami, equipa conhecida mundialmente pelos seus jogadores emblemáticos, como Lionel Messi e Luis Suárez, a ocupar este lugar.

Os clubes portugueses

Nos Estados Unidos, o palco da competição, já se encontram as comitivas dos dois grandes emblemas portugueses. O Benfica aterrou em Tampa, na Flórida, ainda com ausências importantes devido às convocações para as seleções nacionais. Ao mesmo tempo, o FC Porto rumou a Newark, Nova Jérsia, com um grupo de 28 jogadores prontos para escrever a sua própria história.

O Benfica chega com um plantel de 28 jogadores convocados por Bruno Lage, onde sobressaem algumas ausências notórias. Tomás Araújo está a contas com uma lesão, Samuel Soares está ao serviço da seleção nacional Sub-21 e Zeki Amdouni já não faz parte do plantel, por ter terminado o empréstimo.

Para compensar, doze jovens da equipa B foram chamados, numa clara aposta na mescla entre experiência e juventude. Entre eles, destaca-se o nome de Leandro Santos, um jovem que promete agarrar qualquer oportunidade para se impor. Já o meio-campo e a frente de ataque continuam a garantir um nível de qualidade que pode fazer a diferença, mesmo com algumas limitações.

Na lateral esquerda, a atenção recai sobre Álvaro Carreras, que, provavelmente, irá disputar os seus últimos encontros com a camisola encarnada antes de uma mudança para o Real Madrid CF. A incerteza sobre o seu estado emocional, resultado de um impasse entre clubes, pode, contudo, condicionar a sua prestação na competição.

Outro capítulo importante no Benfica será a despedida de Ángel Di María, cujo futuro passa pelo Rosario Central. Este será o palco dos últimos jogos do argentino no clube lisboeta, onde a sua experiência e magia ainda poderão fazer a diferença.

De facto, mesmo com uma época menos conseguida a nível interno, o Benfica demonstrou na Liga dos Campeões que consegue bater de frente com os grandes clubes europeus.

Para Bruno Lage e a sua equipa técnica, este torneio representa uma oportunidade de recomeço. Depois de uma reta final de época menos feliz, é fundamental capitalizar o momento, consolidar as dinâmicas positivas e reforçar a confiança de uma equipa que quer voltar a afirmar-se no palco internacional.

Porém, o grupo do Benfica é exigente: Bayern Munique, Boca Juniors e Auckland City não são adversários fáceis, sobretudo os dois primeiros, onde os duelos com ambos deverão decidir muito da classificação do grupo. Ainda assim, a passagem aos oitavos de final é o mínimo esperado, e a gestão do plantel, especialmente entre os jovens e os jogadores em fim de ciclo, será um desafio para Bruno Lage. Será que o treinador irá privilegiar a preparação da próxima temporada, promovendo jovens talentos e poupando os veteranos, ou lutará por fechar a época com uma última grande conquista?

Do lado do FC Porto, o ambiente é diferente. Depois de uma temporada marcada por altos e baixos, os “dragões” procuram reescrever a sua história neste Mundial. A chegada a Newark trouxe um misto de esperança e determinação, com uma convocatória de 30 jogadores anunciada pelo técnico Martín Anselmi. Entre eles, destaca-se Gabri Veiga, reforço vindo do Al-Ahli da Arábia Saudita, cuja estreia suscita grande expectativa.

O grupo portista conta com presenças importantes, como Diogo Costa, que, no entanto, se lesionou e falhará a estreia frente ao SE Palmeiras, do Brasil, e Rodrigo Mora, além de alguns jovens da equipa B que terão a oportunidade de mostrar serviço. A recuperação de Vasco Sousa, após uma fratura no perónio, traz ainda mais ânimo à equipa.

Assim, depois de uma temporada com alguns altos e muitos baixos, o FC Porto chega ao Mundial de Clubes na esperança de que uma nova página comece a ser escrita ao longo desta competição.

Integrados no grupo de Palmeiras, Inter Miami e Al-Ahly (do Egito), o primeiro lugar do mesmo deve ser o objetivo principal para a turma de Anselmi, com o primeiro jogo frente ao Palmeiras muito provavelmente a decidir o vencedor do grupo. No caminho para os “oitavos”, em caso de apuramento, equipas como o PSG ou o Atlético Madrid deverão aparecer no caminho do FC Porto.

Para Anselmi, a participação no Mundial de Clubes surge numa altura em que a equipa demonstra sinais de crescimento, com sete vitórias nos últimos nove jogos oficiais. Este torneio poderá ser o impulso necessário para fechar a temporada em alta, num ano em que o plantel se prepara para sofrer profundas transformações, com vários jogadores a serem alvo de mercado.

A verdade é que para ambos os clubes lusos, esta competição não será apenas uma sequência de jogos. Será um palco onde se entrelaçam histórias de despedidas e de começos, onde a pressão se mistura com o sonho e a luta pela glória se vive a cada segundo.

No fim, o Mundial de Clubes promete muito mais do que futebol. É uma prova de resistência física e mental para jogadores que chegam ao limite do esforço, um momento de afirmação para jovens que procuram agarrar a oportunidade e um palco onde as histórias pessoais de despedidas e recomeços se cruzam.

Entre os bancos de suplentes, os relvados americanos e o olhar atento dos milhões de adeptos espalhados pelo mundo, o futebol português estará em destaque, pronto para deixar a sua marca numa competição que, apesar das contrariedades e da pressão, continua a ser um dos maiores espetáculos do desporto-rei.

Neste verão de 2025, os olhos do mundo estarão, assim, praticamente todos postos neste palco, onde Benfica e FC Porto procuram não apenas um título, mas, pelo menos, afirmar e confirmar o valor do futebol português entre os gigantes do planeta.

Texto: Raúl Saraiva

Imagem: Sportbuzz