O PSG sagrou-se, este sábado, campeão europeu de futebol pela primeira vez na sua história, com uma goleada de 5-0 ao Inter de Milão, na final da Champions mais desequilibrada de sempre.
A Allianz Arena acordou esta noite com uma energia diferente, quase palpável. Sob um céu carregado de nuvens, que parecia querer testemunhar um capítulo grandioso do futebol europeu, o palco estava montado para uma final de Liga dos Campeões que ninguém iria esquecer tão cedo. Frente a frente, dois gigantes: o Paris Saint-Germain, em busca da glória que sempre lhe escapou, e o Inter de Milão, um histórico que chegou a Munique com ambição, mas saiu esmagado, esmagado por um coletivo parisiense que, esta noite, foi muito mais do que a soma das suas estrelas.
O Paris Saint-Germain, tantas vezes apontado como símbolo do fracasso do dinheiro no futebol, transformou-se, então, finalmente, em algo muito mais do que um projeto ambicioso. Tornou-se campeão europeu. E fê-lo da forma mais impiedosa possível: goleando por 5-0 o Inter de Milão, um colosso italiano com história, com passado, com pergaminhos. Goleando não com sorte, não com um momento de inspiração isolada, mas com uma exibição total. Uma afirmação brutal de superioridade em todos os momentos do jogo.
A cidade de Munique, que viu a Alemanha conquistar o Mundial de 1974, que já serviu de palco a finais memoráveis, foi desta vez testemunha de um nascimento: o nascimento de um novo grande da Europa. Não um grande apenas com poder financeiro, mas com identidade, com alma, com uma geração de jogadores que marcará o futuro do futebol. A noite foi deles, dos jovens, dos ousados, dos que cresceram sem os vícios das superestrelas. Foi a noite de Desiré Doué, de Vitinha, de João Neves, de Nuno Mendes, de Mayulu. A noite em que Paris deixou de sonhar com a Europa e passou a habitá-la.
Desde o primeiro minuto se percebeu que o PSG, no seu habitual 4-3-3, mesmo sem um “destruidor de jogo” e sem uma referência atacante, não viera para a festa. Viera para a conquista. Viera para esmagar. Com uma pressão sufocante, um ritmo alucinante e uma organização coletiva exemplar, a equipa de Luis Enrique tomou conta do jogo como quem toma posse de um trono. Não houve hesitações, nem receios. Apenas convicção. O Inter, habituado ao conforto do seu 3-5-2, viu-se encurralado, impotente, incapaz de sair a jogar ou sequer respirar.
Logo aos 12’, a rede já balançava: jogada envolvente, bolapredestinada de Vitinha em Doué, passe milimétrico para Hakimi, que encostou para o 1-0. O marroquino não festejou. Ainda jogou em Milão. Mas dentro de si, provavelmente, soltou um grito.
Se há noites em que os miúdos crescem, esta foi a noite de Desiré Doué. Aos 19 anos, sem qualquer final internacional no currículo, apresentou-se como se fosse o dono do palco. Marcou o segundo golo aos 20 minutos, com um remate que desviou em Dimarco antes de trair Sommer.
E voltou a marcar aos 63’, num disparo seco ao primeiro poste, após uma combinação relâmpago com Vitinha. Pelo meio, tocou, pensou, organizou, desequilibrou. Foi, em tudo, o melhor em campo, agarrando, assim, o prémio de Golden Boy de 2025.
As estatísticas não mentem: dois golos, uma assistência, 93% de passes certos, sete dribles eficazes, três recuperações de bola. Mas mais do que os números, foi a aura. A forma como, com 19 anos, tomou conta da final da Liga dos Campeões e colocou o mundo a seus pés. Quando, aos 85 minutos, saiu a receber um aplauso de pé de todo o estádio, já não era apenas um talento promissor. Era uma estrela.
No coração do meio-campo parisiense, brilhou um duo luso com a maturidade dos maiores. Vitinha foi o cérebro. Inteligente na posse, lúcido na decisão, incansável na pressão. João Neves, por sua vez, foi o motor. Sempre a rodar, sempre em movimento, sempre a tapar espaços, a lançar transições, a cobrir os colegas. Juntos, secaram Barella e Mkhitaryan, bloquearam as saídas de Çalhanoglu e eliminaram qualquer hipótese de construção do Inter. O miolo foi todo deles.
A cada recuperação, a cada passe progressivo, a cada desarme, ficava mais evidente a superioridade técnica e tática dos dois médios portugueses. São eles o símbolo de uma nova escola lusa, que alia inteligência posicional com uma entrega incansável. Quando se fala do domínio do PSG nesta final, é impossível não os colocar no centro da conversa.
Já com algumas alterações realizadas, à esquerda, Kvaratskhelia foi poesia. Dançou com Darmian como se estivesse num salão vazio, fez da linha um território de liberdade, e assinou o quarto golo com um remate algo cruzado, aos 74 minutos, após passe de Dembélé, que, durante grande parte do jogo, foi furacão. Rápido, imprevisível, elétrico, destruiu o flanco de Dimarco e forçou várias faltas em zonas perigosas. Entre os dois, criaram desequilíbrios constantes, abriram espaços e torturaram uma defesa que, ao intervalo, já parecia exausta.
Sereno no banco, imperturbável no discurso, Luis Enrique preparou esta final como quem desenha uma obra-prima. Não procurou holofotes, nem frases de efeito. Procurou equilíbrio, identidade, simplicidade. E conseguiu. Em menos de dois anos, pegou num plantel em reconstrução e moldou-o a partir de uma ideia clara: intensidade com bola, agressividade sem bola, liberdade com responsabilidade. Com ele, os egos deram lugar ao coletivo. O futebol passou a ser o foco.
E agora, com a Liga dos Campeões nas mãos, entra num clube restrito de treinadores com títulos europeus em diferentes clubes. Já o fizera no Barcelona. Fê-lo agora em Paris. E talvez tenha sido esta, de todas as suas conquistas, a mais saborosa, podendo agora festejá-la com a sua filha, esteja ela onde estiver. Há sentimentos que não se explicam e este será, certamente, um deles.
É difícil escrever sobre o Inter sem cair na constatação fria da impotência. A equipa de Simone Inzaghi, tão sólida ao longo da competição, desapareceu. Thuram esteve sozinho na frente, Lautaro apagado, Barella perdido, Bastoni mal posicionado, Sommer vulnerável. Nem as substituições conseguiram mudar o rumo dos acontecimentos. Foi uma exibição irreconhecível de um conjunto que, até esta final, parecia pronto para bater-se com qualquer gigante europeu.
Talvez o peso da ocasião lhes tenha tolhido as pernas. Talvez a intensidade do PSG tenha sido, simplesmente, demasiada. A verdade é que os italianos saíram de Munique humilhados. E sem argumentos.
Com o jogo resolvido, Luis Enrique deu minutos a Gonçalo Ramos, e lançou Mayulu, outra pérola da formação. E foi o jovem francês, de 18 anos, a fechar a goleada. Aos 86’, após combinação com Barcola, tirou Acerbi do caminho e bateu Sommer com frieza. O estádio irrompeu em aplausos. Mais um nome para o futuro. Mais uma promessa que se fez real. Mais uma confirmação de que este PSG não é uma constelação. É uma geração.
Com o apito final, os jogadores do PSG correram para o relvado como crianças numa tarde de verão. Nuno Mendes ajoelhou-se, mãos na cara. João Neves abraçou Vitinha com os olhos húmidos. Dembélé saltava, Doué sorria com um brilho de incredulidade. No banco, Luis Enrique apenas sorriu, discretamente. Sabia. Sempre soube.
O futebol europeu ganhou um novo campeão. E, mais do que isso, ganhou uma nova referência. Um novo modelo. Uma equipa que combina juventude, disciplina, talento e coragem. Uma equipa que joga como uma orquestra, que não precisa de vedetas para brilhar. Uma equipa que, em Munique, escreveu a mais brilhante página da sua história.
Tantas vezes o PSG sonhou com esta noite. Tantas vezes caiu, tantas vezes foi acusado de ser um produto de laboratório. Desta vez, não houve laboratório. Houve futebol. Houve alma. Houve entrega.
Paris, cidade de luz, é agora também cidade de campeões. E quem assistiu a esta noite em Munique sabe: este título não é o fim. É o começo.

Por tudo o que já foi descrito anteriormente. O extremo francês fez o que quis, foi uma autêntica dor de cabeça para Dimarco, pelo corredor direito, e foi, sem sobra de dúvidas, o homem do jogo. Dois golos e uma assistência numa final da Champions, aos 19 anos. Confiança, habilidade, impacto. Estratosférico. Agarrou hoje o prémio de Golden Boy!
Texto: Raúl Saraiva
Imagens: @PSG