Para encerrar a 33ª jornada da Liga Portugal, o Boavista recebia no estádio do Bessa o rival da cidade do Porto, no dérbi da invicta.
Estas duas equipas chegavam para este jogo em situações muito diferentes no campeonato, o Porto procurava garantir o terceiro lugar e com isso garantir também vaga na fase de liga da Liga Europa, enquanto o Boavista procurava igualar os seus adversários diretos na luta pela permanência, que já tinham vencido os seus respetivos jogos nesta jornada (o AVS venceu no terreno do Estrela da Amadora, já o Farense tinha acabado de vencer fora de casa o Vitória SC).
Relativamente às equipas iniciais, a formação da casa fazia apenas uma mexida, saía Marco Van Ginkel no meio campo para a entrada de Miguel Reisinho, ao passo que os visitantes realizavam duas alterações, na medida em que, na baliza, o capitão Diogo Costa voltava à titularidadesubstituindo Cláudio Ramos e Alan Varela entrava para o lugar de Pepê.
Do lado axadrezado, a equipa começou o jogo num 4-2-3-1, que se transformava num 4-5-1 no momento sem bola, uma vez que os extremos Salvador Agra e Abdoulay Diaby baixavam para junto do meio-campo, onde também Joel Silva descia para junto de Sebastián Pérez e Miguel Reisinho. Na segunda parte, a perder por 1-2, viu-se mais um 4-2-3-1/4-4-2 em momento defensivo, com Miguel Resinho nas costas ou mesmo a juntar-se a Robert Bozenik na pressão.
Os laterais, Osman Kakay e Filipe Ferreira, não eram propriamente muito ofensivos, até porque, do outro lado, havia, muitas vezes, dois jogadores para marcar, consoante as subidas de João Mário e/ou Francisco Moura. Na frente, Bozenik procurava essencialmente a profundidade, tentando aproveitar a ingenuidade que tem reinado no eixo defensivo azul e branco nesta temporada.
Do lado portista, via-se uma formação no habitualdeclarado 3-4-3, com uma linha bastante subida, qual Barcelona, de Hansi Flick, que foi surtindo efeito, anulando os ataques à profundidade de Robert Bozenik (quase todos resultaram em fora de jogo ou com Diogo Costa, atento, a sair da baliza e afastar).
Além disso, havia João Mário e Francisco Moura como alas, Alan Varela e Stephen Eustáquio como médios interiores, sendo o primeiro mais um “6”, recuperador de bolas e o pêndulo da construção de jogo, enquanto o canadiano era o “motor” de jogo da equipa, fazendo a ligação entre o meio-campo e o ataque.
Na frente, desta vez, Fábio Vieira aparecia descaído para a ala direita, mais próximo das zonas onde se sente mais confortável, isto é, mais próximo da baliza adversária. Mora era o “vagabundo” da equipa, deambulando entre linhas e espaços que, eventualmente, aparecessem, sendo Samu a principal referência atacante da equipa.
De referir, ainda assim, as constantes permutas posicionais entre os três da frente, confundindo, assim, as marcações axadrezadas, que se viram aflitas para estabilizar e poder encaixar nos jogadores portistas. No entanto, a verdade é que Samu parece cada vez mais “um peixe fora de água” nesta equipa, uma vez que apesar de tentar se dar ao jogo, baixando e procurando dar soluções de passe aos colegas, falha quase todas as receções das bolas que lhe chegam e mesmo quanto tenta arrancar em velocidade, poucas vezes leva a melhor. Assim, tirando um ou outro lance em que até trabalhou bem dentro de área, onde é letal, acabou por passar um pouco ao lado do jogo.
O árbitro apitava para o início de jogo, com o Porto instalado no meio campo ofensivo nos minutos iniciais, não tivemos que esperar muito para ver a primeira oportunidade do jogo para o Porto, recuperação de Rodrigo Mora e remate de Samu à malha lateral da baliza axadrezada, estavam decorridos dois minutos de jogo, logo a seguir, Fábio Vieira rematava para defesa atenta de Vaclik.
Aos 20 minutos, assistimos ao primeiro golo da partida, Rodrigo Mora, num golpe de génio, a rematar colocado e a marcar um golaço para inaugurar o marcador no estádio do Bessa. O segundo golo não demoraria muito a aparecer, cinco minutos depois da obra de arte de Rodrigo Mora, Marcano no seguimento de um canto a fazer o segundo para os dragões.
Aos 34 minutos, o Boavista voltava a entrar na discussão pelo resultado, através de uma grande penalidade, Miguel Reisinho reduzia a desvantagem e colocava novamente a equipa axadrezada dentro da discussão da partida.
Depois de sete minutos de descontos na primeira parte, muito por causa da “chuva de tochas” que inundou o relvado a meio da primeira etapa, o árbitro apitava para o intervalo com o resultado a apontar 1-2 a favor do Porto.
Passando à segunda parte, sem alterações de ambos os lados ao intervalo, o Boavista entrou muito bem à procura do empate na partida, aos 49 minutos, Diaby isolado com o guarda-redes, mas a rematar para defesa segura de Diogo Costa.
O FC Porto reagiu, aos 59 minutos, grande passe em profundidade de Fábio Vieira a isolar Samu que rematava para uma excelente intervenção de Tomas Vaclik. A equipa azul e branca continuava a atacar, depois de uma incrível jogada individual, Samu rematava para mais uma defesa de Vaclik, aos 64 minutos.
Sensivelmente a partir desse momento, o jogo tornara-se algo quezilento e com muitas paragens, ora devido a faltas, ora devido a foras de jogo marcados ao ataque boavisteiro.
Martín Anselmi promoveu a primeira alteração do jogo, ao retirar de campo o autor do primeiro golo, Rodrigo Mora, para fazer entrar Pepê. Depois, ainda fez entrar Martim Fernandes e Tomás Pérez, saíram João Mário e Eustáquio. Enquanto isso, no Boavista, foi entrando Ariyibi para o lugar de Salvador Agra.
Aos 81’, finalmente novo ponto de interesse no jogo, com Nehuen Pérez a ver o segundo cartão amarelo e consequente vermelho, após entrada dura sobre Diaby.
Aos 85’, Anselmi ainda tirou Fábio Vieira e Samu, para entrarem Danny Namaso e Otávio (fundamental no jogo aéreo, mas assobiado pelos adeptos azuis e brancos), enquanto Stuart Baxter fez entrar Van Ginkel para o lugar de Filipe Ferreira, tentando um “forcing” final, à procura de conseguir, pelo menos, um ponto.
Porém, até final, e mesmo com os cinco minutos de descontos dados pelo árbitro, não houve espaço para grandes oportunidades de registo, a não ser a expulsão, também por duplo amarelo, de Osman Kakay, peloque os dragões venceram, dois anos depois, depois do empate a uma bola na época passada, o dérbi da Cidade Invicta.
Contas feitas, o FC Porto segura definitivamente o terceiro posto da classificação do campeonato português, somando, agora, 68 pontos, enquanto o Boavista, com 24 pontos, vai para a última jornada obrigado a ganhar e a precisar que tanto Farense como o AVS não pontuem, diante dos respetivos adversários.

Num jogo tão amorfo como foi este dérbi, apena um jogador que tira um “coelho da cartola” como aqueles, merecia levar esta distinção. Mas não é só por isso. Joga e faz jogar, foram dos pés dele que nasceram as melhores jogadas coletivas de um FC Porto particularmente desinspirado, após 25 minutos até do melhor que se viu esta época, com Martín Anselmi. Em síntese, um craque da cabeça aos pés, este talento, de apenas 17 anos, que vai, certamente, juntamente com outros jogadores, ser o futuro da Seleção Nacional.
Texto: Raúl Saraiva e Rodrigo Fraguito
Imagens: Raúl Saraiva e Rodrigo Fraguito