A liberdade do cinema após o 25 de abril

A liberdade do cinema após o 25 de abril

Durante o Estado Novo, o cinema foi fortemente condicionado em Portugal. Era, na verdade, usado pelo governo como ferramenta de propaganda, promovendo os ideais do regime. “A Revolução de Maio” (1937), onde um revolucionário que regressa a Portugal após vários anos se converte aos regimes, após ver as transformações no país. “Feitiço do Império” (1940), que conta a história de um emigrante que se volta a apaixonar pela sua pátria através de viagens no país e nas colónias portuguesas em África.

A censura foi outra ferramenta importante, vários filmes, tanto portugueses quanto estrangeiros, foram alvos desta restrição, que foi executada através de proibições, cortes e manipulações. Como “Lolita” (1962), que acabou por estrear em 1972, com vários cortes. “Sleeper” (1973), em que as legendas foram alteradas. “This Land Is Mine” (1943), onde na cena final, em que a personagem principal morre por defender a resistência, foi retirada do filme. Os próprios filmes nacionais também tinham de passar pelo processo da Comissão da Censura, muitas vezes tendo de submeter, em primeiro, o argumento. “A Caça” (1963), teve o seu final original mudado devido ao seu tom “pessimista” e “Brandos Costumes” (1975), que só após a revolução é que pode ser terminado e exibido.

Com a Revolução do 25 de abril, este cenário muda e o país entra numa nova era de exibição cinematográfica. Houve um aumento significativo da frequência das salas de cinema, filmes como “O Último Tango em Paris” (1972) e “o Couraçado Potemkine” (1925), ao serem finalmente exibidos, tornaram-se símbolos da liberdade, ficando em cartaz durante meses e criando enormes filas só para serem vistos.

Os cineclubes também se multiplicaram pelo país tornando-se verdadeiros espaços de liberdade que, para além do entretenimento, eram locais de reflexão, debate e mudança. Estes permitiram a qualquer pessoa, independentemente da sua origem social e económica, tivesse acesso ao cinema e filmes. Muitos deles ainda continuam ativos atualmente, promovendo cinema alternativo, nacional e internacional.

Apesar destas mudanças e da liberdade conquistada, o cinema nacional não cresceu devido à falta de apoios e infraestruturas. Além disso, o cinema nacional enveredou muito pelo “Cinema de Abril”, que explora as consequências da ditadura e as desigualdades provocadas por esta. Assim, o cinema português não conseguiu atingir o público geral, competindo sempre com o cinema estrangeiro.

A história do cinema português foi marcada por desafios, e até hoje certos obstáculos ainda existem. A liberdade de produzir filmes livremente e sem restrições é essencial, pois o cinema não é apenas uma forma de lazer, é um espaço de resistência, identidade e memória de um povo. E os portugueses nunca desistiram desta arte, como demonstram filmes como: “Ana” (1982), “As Bodas de Deus” (1999), “Capitães de Abril” (2000), “José e Pilar” (2010), “A Metamorfose dos Pássaros” (2020).

Texto: Matilde Moura

Imagem: Tiago Santos