Posso dizer seguramente que, neste preciso momento, em algum local remoto do mundo, alguma tragédia está a acontecer, independentemente de alguma multidão, do relevo, do clima, ou do fuso horário.
Tragédias existem muitas e em variadas formas, que afetam milhares de pessoas simultaneamente, como um furacão, um terramoto, um maremoto, um incêndio, uma inundação, uma erupção vulcânica… mas diria que as tragédias silenciosas (e barulhentas ao mesmo tempo), aquelas que ocorrem apenas para nós, no nosso interior, invisíveis e inaudíveis aos olhos dos outros, são igualmente perigosas e desastrosas.
Olhando para a frente, para o caminho metafórico que corremos pela vida, apercebemo-nos que já definimos as tragédias que nos aterrorizam caso venham a acontecer, acompanhadas de uma possível estimativa de idade e até talvez um local.
Como te vês daqui a dez anos? Onde esperas estar quando terminares o curso? O que pretendes fazer para a tua vida? Quanto pretendes ganhar depois de tudo? Quem estará ao teu lado para te acompanhar?
Perguntas que com certeza já todos ouvimos, demasiadas vezes, feitas por pessoas próximas que não nos conhecem completamente. E perguntas que com certeza, mesmo sem termos a certeza, já têm uma resposta.
Porém, subitamente, se apenas trocarmos o “tu” pelo “eu” nas interrogações, e as fizermos silenciosamente apenas para nós próprios, ficamos sem resposta, e pior ainda, acabamos com mais perguntas para a qual também não temos certeza de possuírem resposta.
Como me vejo em 10 anos? Onde espero estar quando (e se) terminar o curso? O que pretendo para a minha vida? Quanto (o que) pretendo ganhar depois de tudo? Quem vai estar aqui para me ajudar? Quem me irá acompanhar? Farei isto sozinha? Será que consigo fazer isto sozinha? Porque não conseguirei eu fazer isto sozinha? Estarei sozinha? Com quem me vejo ao lado em dez anos? Acabarei sozinha? Direi sim àquela pessoa especial? E se essa pessoa especial não for assim tão especial? Será que encontrarei aquela pessoa especial? E se eu não encontrar aquela pessoa especial? Pior, e se eu não me encontrar? Será que estou mesmo no caminho certo?
Para estas perguntas, podemos não ter uma resposta positiva, mas certamente uma negativa nos assombra – a tal tragédia.
E não queremos ser tragédias. Melhor, não queremos ser as nossas próprias tragédias.
Independentemente de onde, todos temos as nossas inquietações, que de uma forma confusa e demasiado simples, são muito mais profundas para nós próprios do que para os outros.
Está tudo bem se o outro se sentir perdido ou incerto, porque é normal e ele vai achar o seu rumo.
Mas o sentimento é completamente diferente quando falamos para nós mesmos e nos sentimos a afogar nas nossas incertezas, com os olhos demasiado fechados para nos conseguirmos ver e os ouvidos cheios de água para nos conseguirmos ouvir com clareza.
Isso apenas porque a nossa própria definição de tragédia, (e de nos tornarmos nela) nos aterroriza.
Iara Pinto