SOCIEDADE “EVOLUÍDA”

SOCIEDADE “EVOLUÍDA”

O termo evolução esteve sempre ligado ao ser humano como condição inerente à sua existência.
Aliás, vivemos na era da evolução. O ritmo vertiginoso a que esta se desenrola acelera a cada ano,
mês e dia que passa. O homem torna-se mais inteligente e a máquina mais potente. Somos capazes de
criar softwares sofisticados, inteligências que ultrapassam o comum e explorar realidades para lá do
nosso planeta, mas parecemos, ainda assim, incapazes de mudar. Reféns dos mesmos erros que
assombram os nossos antepassados, condenados a assistir ao desenrolar de uma história que rima a
cada verso que se escreve. Será essa a nossa irremediável sina?

Observo, atentamente, ao escrever das páginas da História e assisto, com preocupação, à repetição de
acontecimentos que, se não fossem tão sérios, seriam cómicos.

Repudiamos e julgamos as ações de grandes ditadores que aparentam pertencer a um passado distante,
alheio à nossa vivência e ao nosso alcance. Mas esquecemos de pensar que esses ditadores não
ascenderam ao poder sem antecedentes ou apoio. Pelo contrário, eram venerados, seguidos e
admirados. Indignados, questionamos o seu apoio e, horrorizados, questionamos os seus motivos. A
resposta, porém, podemos encontrá-la bem presente nos nossos dias.

Narrativas são vendidas a troco de vidas. Democracias são postas em causa por interesses
económicos. Direitos humanos fundamentais são atropelados em nome da ganância. Ódio é destilado
como distração do cerne da questão. A liberdade de informação é um privilégio de alguns e, no meio
da miséria e do descontentamento, nivela-se o terreno para a construção de demagogias. Procuram-se
mudanças rápidas e salvadores. Prometem-se soluções àqueles que, desesperados, as anseiam. E no
final, coloca-se no poder o primeiro que se dispõe a realizá-las.

Cometemos erros para acertar, destruímos em prol da construção e mentimos em nome da verdade. Os
nossos erros têm teias, a nossa destruição é rotineira e as nossas mentiras são estratégicas. Mas, no
entanto, evoluímos, que significa progredir, que significa avançar, que significa parar, que significa
dar um passo atrás, que significa repetir.

E enquanto nada do que escrevo é novidade, somos confrontados com os mesmos cenários e
tornamo-nos nas pessoas que, com tanta certeza e razão, desprezamos. É preciso desconfiar, procurar
a “verdade” e deter conhecimento. Não digo decorar nomes e datas, mas colocar os dedos entre os
acontecimentos da História, compreender as suas causas, motivações, métodos e consequências.
Recusar a inatividade e cultivar interesse pelo o que é político, porque, no final das contas, tudo o é.
Não estamos imunes à propaganda, mas fortalecemo-nos ao procurar educação e ao questionar,
porque a ignorância não nos liberta, apenas nos torna figurantes numa história escrita por outros.

Ana Ferreira