Tudo para todos

Tudo para todos

Tolerância e paciência. Tenho para dar e vender a todos que me rodeiam, quase como se existisse uma espécie de dívida intrínseca entre mim e eles. É quase como carregar um peso que cresce a cada expectativa, atrelado a uma constante tentativa de corresponder ao que os outros esperam de mim.

A verdade é que morri a mais pequena das mortes a simplesmente tentar. Porque não tenho medo de ir para de baixo da terra; não aguento ver a água salgada a ser derramada na cara dos outros; não suporto não atender o telefone quando mais precisam; e simplesmente não tenho estômago para largar a mão de ninguém.

Concluí que, ao tentar ser tudo para todos, eu fui nada para mim. Afinal, que papel estou a interpretar na minha vida? Este esforço incessante fez me entrar num ponto de rutura onde o corpo e a mente já não aguentam mais o peso, onde o silêncio interno grita por paz e descanso, e onde o cansaço deixa de ser apenas físico.

Esta espécie de “obrigação” de carregar o mundo nas costas culminou no adiar dos meus próprios desejos, na ignorância e no desrespeito dos meus limites pessoais. E, de repente, o aprender a dizer “não” deixou de ser egoísmo e tornou-se num ato de autocuidado, pois só podemos ser verdadeiramente presentes para os outros quando estamos inteiros connosco mesmos.

Ser tudo para todos é estar em todos os lugares, menos no único lugar onde realmente importa – o nosso mundo interior.

Ivo Pereira