O SL Benfica confirmou a passagem aos play-off de acesso aos oitavos de final da Liga dos Campeões ao vencer esta noite no terreno da Juventus FC por 0-2, na 8.ª e última ronda da fase regular da prova.
Vangelis Pavlidis e Orkun Kokçu fizeram os tentos dos encarnados, a coroar uma bela exibição do Benfica, numa casa onde costuma ser feliz: em cinco jogos na casa da Juventus, o Benfica venceu três, perdeu um e empatou um. Foi a sétima vitória das águias em nove encontros com o conjunto de Turim.
Com o triunfo e os outros resultados, o Benfica termina a fase de Liga no 16.º lugar, o que lhe permite ser cabeça de série no sorteio dos play-off. Brest ou AS Mónaco, um deles será o adversário do Benfica no play-off. Se passar, Benfica medirá forças com FC Barcelona ou Liverpool FC nos oitavos de final.
Posto isto, a matemática dizia que um empate bastava, mas, neste mundo do futebol, quem joga para empatar, acaba inevitavelmente por perder. Numa casa de boa memória, o Benfica só tinha de repetir três dos quatro resultados alcançados no terreno da Vecchia Signora nas provas da UEFA.
Ora, neste contexto e sem Álvaro Carreras e Arthur Cabral, ambos suspensos, Bruno Lage lançava Alexander Bah na esquerda da defesa, com Tomás Araújo no lado contrário, e voltava a apostar em Andreas Schjelderup em detrimento de Kerem Akturkoglu. O Benfica precisava apenas de um empate para garantir a presença no play-off de acesso aos oitavos de final e, do outro lado, numa Juventus que tinha mais dois pontos, Thiago Motta tinhaDusan Vlahovic como a natural referência ofensiva e Francisco Conceição no onze inicial.
O jogo começou a um ritmo louco e o golo poderia ter aparecido logo nos instantes iniciais e em qualquer uma das balizas. Pavlidis falhou o desvio por centímetros depois de um cruzamento de Ángel Di María na direita e Schjelderup viu Mattia Perin travar um remate com uma boa defesa, mas Anatoliy Trubin também teve de se aplicar para parar um cabeceamento forte de Samuel Mbangula.
A Juventus tentava claramente explorar o corredor direito do ataque, lançando Francisco Conceição em velocidade,agarrado à inquietude que lhe é caraterística e que contagiou os adeptos da casa em todas as posses de bola(um contraste com os assobios vindos do setor destinado aos adeptos portugueses ao jovem que em tempos foi rival), enquanto o Benfica conseguia encontrar espaço nas costas da defesa italiana com alguma facilidade.
Schjelderup voltou a ficar muito perto de marcar ainda dentro dos dez minutos iniciais, com mais um remate que Perin defendeu, e Thiago Motta acabou por ter de realizar uma substituição forçada à passagem do quarto de hora inicial por lesão de Pierre Kalulu, lançando Manuel Locatelli.
Logo depois, o Benfica conseguiu marcar: na sequência Fredrik Aursnes tirou um passe perfeito a descobrir Bah descaído na esquerda, o dinamarquês segurou e assistiu Pavlidis, que de primeira e já na área atirou para abrir o marcador, à passagem do minuto 16.
Destaque, por isso, para o lateral dinamarquês, que, na ausência de Álvaro Carreras, foi aposta de Bruno Lage para a lateral esquerda e deu provas ao treinador de que pode ser uma opção válida naquele flanco quando necessário. Apesar das limitações com o pé esquerdo, deu bem conta do duelo com Francisco Conceição e não se inibiu de aparecer no ataque, como aconteceu na inauguração do marcador em Turim.
Além disso, mérito seja dado ao tridente de meio-campo do Benfica. Cada um com a sua função e cada um a cumpri-la com mestria. Fredrik Aursnes, sempre ao lado de Pavlidis na fase defensiva, o responsável por orientar e ativar a pressão do Benfica. Florentino Luís com um trabalho incansável nos equilíbrios, nas coberturas aos espaços que sobraram nas costas da linha mais avançada. Finalmente, Orkun Kokçu como refúgio de uma equipa que sabe poder contar sempre com a qualidade de passe e visão de jogo para progredir. E muitas vezes progrediu o Benfica por fora da pressão, se é que assim lhe podemos chamar, da Juventus.
Assim sendo, a primeira parte foi mesmo um recital lisboeta, de tal forma que o jogo podia muito bem ter ficado praticamente resolvido, tivessem as águias outra afinação na hora de rematar. Os tifosi, exigentes, não se coibiram de uma assobiadela monumental aos bianconeri.
Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e a primeira oportunidade da segunda parte pertenceu à Juventus, com Mbangula a rematar com muita força para uma defesa importante de Trubin. O Benfica respondeu por Kokçu, que atirou rasteiro e ao lado depois de uma assistência preciosa de Di María, e a lógica do encontro mantinha-se: os italianos tinham mais bola, mas os encarnados não tinham muitas dificuldades para chegar ao último terço com poucos passes.
Kenan Yildiz quase empatou já perto da hora de jogo, com um pontapé que foi à malha lateral e já depois de um remate rasteiro de Khéphren Thuram, e surgia a sensação de que a Juventus estava a crescer e a chegar de forma mais recorrente e intensa à baliza de Trubin.
Thiago Motta procurou, por isso, tentar surfar essa onda, lançando Nico González e Teun Koopmeiners, e Bruno Lage tentou refrescar a equipa e a transição defensiva ao trocar Di María e Schjelderup por Akturkoglu e Leandro Barreiro.
É quase caso para dizer que o Benfica voltou a não conseguir encontrar a consistência exibicional e o crescimento da Juventus empurrou os encarnados para trás. Um pouco como havia sucedido na receção ao Barcelona.
Contudo, o momento dos transalpinos, está longe de ser igual ao dos catalães e a falta de arte no ataque bianconerifoi “amiga” dos encarnados, que sobreviveram ao pior momento no encontro e foram tratar de matar a partida numa das saídas para o ataque que tiveram princípio, meio e fim.
Pavlidis deu o apoio frontal e, mais do que isso, teve a capacidade de encontrar Aursnes de primeira. Esse movimento, aliado à inteligência do norueguês em dar um toque subtil de calcanhar, fez toda a diferença, isto porque Leandro Barreiro ficou com uma avenida para percorrer pela direita, antes de dar novamente a Pavlidis e o grego fazer o passe para Orkun Kokçu, libertado pela finta de corpo de Kerem Akturkoglu, finalizar. Estavam decorridos 80 minutos em Turim e o Benfica praticamente garantia a vitória e a presença nos play-offs da prova milionária.
Depois foi só gerir com bola, perante uma Juventus resignada, que nunca teve argumentos para se superiorizar ao Benfica. No final, só se ouviam os adeptos encarnados no Allianz Stadium.
Vamos ser claros: o Benfica não deu um pontapé na crise. Não vamos por aí, que dizer uma coisa dessas é curta. Na realidade, o Benfica bateu na crise, sim, mas com um murro tão forte que a deixou no chão.
Foi, portanto, uma equipa cheia de força e sem sinais do cansaço psicológico dos últimos dias. Uma equipa trabalhadora, esforçada e, sobretudo, solidária. É certo que a Juventus também ajudou, até porque esta Juve é uma caricatura da grande equipa de outros tempos e percebe-se bem, ao vê-la jogar, porque é que Thiago Motta está na corda bomba.
No entanto, não há, de modo algum, que tirar mérito à turma encarnada, já que o Benfica foi, de facto, um conjunto no sentido mais socialista do termo: altruísta, produtivo e caridoso. No fundo os jogadores uniram-se e trabalharam juntos por um bem superior: neste caso, a vitória.
Em suma, ante a crise, os encarnados foram os adultos na sala, ajudados por uma Juventus ainda mais nervosa e receosa, que acabou novamente derrotada em sua casa por um velho carrasco.
Pavlidis parecemesmo talhado para a Champions, leva cinco golos na prova e voltou a marcar bem cedo, mas o destaque para o avançado internacional grego não se limita ao golo que marcou. É que, além do tento registado, trabalhou muito e, apesar de ter desperdiçado mais um par de ocasiões flagrantes, fez a assistência para o 0-2, fixando o resultado final em Turim.
Texto: Raúl Saraiva
Imagens: X