Incontornavelmente, o FC Porto entrou em campo esta quinta-feira como favorito perante o Midtjylland. É certo que a equipa de Vítor Bruno estava a atravessar um momento negativo em termos de resultados, mas o jogo da quinta jornada da fase de liga da Liga Europa tinha particular importância.
Primeiro, podia colocar fim a esse mau momento. Segundo, os dragões estavam praticamente obrigados a ganhar, sob pena de terminarem o dia fora do top-24. O facto de jogarem em casa, num Dragão despido, transmitia confiança à equipa e aos adeptos, já que ali os portistas têm mostrado uma consistência que está longe de se manter fora de portas.
Perante uma equipa jovem, forte nos duelos físicos e que aposta num jogo direto, Vítor Bruno assumiu na antevisão ao encontro que ia alterar o seu plano de jogo em função disso. As mudanças no onze eram um dado adquirido, já que João Mário continua lesionado e Nico González estava suspenso para a receção aos dinamarqueses. O calendário é apertado até ao fim do ano, com uma média de três jogos por semana, mas o momento e a situação na segunda prova europeia impunham poucas mudanças.
Ora, em sentido inverso, o Midtjylland entrava em campo ligeiramente mais tranquilo, já que era 20.º, com sete pontos. Por outro lado, a equipa dinamarquesa estava numa fase completamente diferente, já que o Campeonato da Dinamarca parou no início do mês devido ao inverno. Assim, os lobos negros tinham pela frente apenas os compromissos europeus, ainda que as lesões no setor ofensivo — Franculino Djú (ex-SL Benfica), Simsir e Osorio — estejam a causar vários problemas ao treinador.
Assim, o conjunto português entrou para este duelo inédito com Galeno na lateral esquerda e Alan Varela e Fábio Vieira, dupla que estava em dúvida, no onze inicial. Também Danny Namaso foi titular, atuando atrás de Samu Aghehowa. Como seria de esperar, os dragões apresentaram uma formação de ataque e desde cedo assumiram o domínio do encontro, ainda que com pouca chegada à área dinamarquesa. Em sentido inverso, o Midtjylland mostrou-se mais incisivo, chegando à baliza de Diogo Costa em transição e poucos toques na bola bastavam para isso acontecer.
Com o passar dos minutos os portistas estabilizaram e assumiram uma postura de controlo no jogo. Ao invés da agressividade no ataque aos espaços da fase inicial, iam trocando a bola entre os três corredores em busca de desequilibrar o Midtjylland
A estratégia deu frutos aos 29 minutos, quando Danny Namaso abriu o marcador. Após uma troca de bola mais prolongada, Stephen Eustáquio surgiu em posição de cruzamento e encontrou o avançado dentro da área, que cabeceou e beneficiou de um desvio de Bech Sorensen para enganar o guarda-redes e dar vantagem ao FC Porto.
Mesmo a ganhar, a equipa de Vítor Bruno manteve a paciência com bola e, aos 42 minutos, podia ter feito o segundo. Após uma bela jogada perto da área dinamarquesa, Samu cruzou para Namaso, que não conseguiu antecipar-se com sucesso ao corte do defesa para bisar na partida.
Aconteceu na primeira parte, mas desenrolou na segunda. O domínio do FC Porto com bola foi claro e óbvio no relvado do Estádio do Dragão, até porque Elías Ólafsson teve diversas situações de sobressalto enquanto esteve em campo. A verdade é que, ainda antes da saída, foi novamente vítima da chama azul e branca.
Samu marcou pelo terceiro jogo consecutivo e chegou aos 15 golos com a camisola dos dragões na temporada. Servido por Pepê, depois de um ilustre passe de Fábio Vieira, o ponta-de-lança espanhol aproveitou o embalo e voltou a concretizar, dando ainda mais alento à vitória do FC Porto.
Ao contrário de outras partidas, o dobrar da vantagem não fez com que os dragões diminuíssem o ritmo. O fator risco manteve-se e o FC Porto optou por defender com bola e continuar a deixar o Midtjylland em sentido, através de sucessivas investidas.
Assim sendo, o Midtjylland continuou sem conseguir contrariar a formação portista que, pouco depois, viu o internacional espanhol desperdiçar o bis, com Ólafsson a levar de novo a melhor. Esse lance, note-se, acabou por ser de infortúnio para o guarda-redes, que acabou por chocar com Samu e saiu lesionado na mão.
O emblema dinamarquês nunca conseguiu criar real perigo aos dragões e o treinador portista deu ainda minutos a Iván Jaime, Vasco Sousa, Gonçalo Borges e Rodrigo Mora, que entraram num contexto favorável pela primeira vez em muito tempo.
Antes do final, os dragões quase manchavam aquela que estava a ser uma das melhores exibições da temporada. Aos 90+3 minutos, Buksa aproveitou uma confusão na área para reduzir a desvantagem e dar alguma esperança à sua equipa, mas o golo foi anulado por fora de jogo (e ainda bem, numa Liga Europa em que o saldo de golos pode ser decisivo nas contas finais).
Apesar da desatenção perto do fim e do assalto final do adversário nos últimos minutos, o FC Porto conseguiu uma vitória importante para ganhar algum fôlego na classificação da Liga Europa – agora é 18.º, com oito pontos – e ganha alento para os duros desafios que o futuro trará. Seguem-se mais duas “finais”, contra Olympiacos (casa) e Maccabi Telavive (fora).
Homem do jogo
Esteve, por vezes, mais afastado do jogo, com a bola a chegar-lhe em doses mais reduzidas, mas mantém intactas as características que mostrou no arranque da temporada (e que vão reaparecendo com a subida de forma). Não dá uma bola por perdida, ataca o espaço e ganha duelos no corpo. Estaria noutro nível se a capacidade técnica fosse outra, mas ainda vai mais do que a tempo, tendo em conta que tem apenas 20 anos de idade, de melhorar esse aspeto.
Texto: Raúl Saraiva
Imagem: UEFA