Se ainda fizer sentido mencionar os 50 anos do 25 de Abril de ’74 (que faz!), vou aproveitar este espaço palpável, cedido pela gentil direção do jornal “O Torgador”, para deambular sobre o impacto da “Revolução dos Cravos” no panorama musical português.
Já imaginaram como seria um Portugal alternativo, onde não houvesse um regime, durante mais de 40 anos, a empestar tudo com um cheiro a fascismo? O “Quem-Nós-Sabemos” congelou-nos e não nos deixou provar, de livre e espontânea vontade, todos os saborosos sons, principalmente os anglo-saxónicos, das ricas décadas de 50, 60 e 70. Mais! Também não nos deixou cozinhar. Para além de nos fechar as fronteiras (e isto não é sobre geografia), o Estado Novo deu-nos, em jeito de propaganda, música e artistas comprados e instrumentalizados com o intuito de nos unificar, proibindo-nos de ter vozes díspares. Por outro lado, os “outros” artistas e as suas obras, mais ou menos interventivos, eram isolados e perseguidos, não fossem eles pôr em causa o “folclore”. Vai-se a ver e, de facto, até foram eles que empurraram a revolução. Compreensível, então o medo até fazia sentido.
Os anos 80 vieram e os “GNR” queriam ver Portugal na CEE. Esta década dos 80’s aproximou-nos da Europa e do resto do mundo. A partir daí, o resto é história e está gravada em discos. Felizmente, hoje vamos tendo lançamentos atrás de lançamentos, de todos os géneros imagináveis, a um ritmo quase impossível de acompanhar. A criação musical portuguesa está vivíssima e parece que ainda hoje, 50 anos dentro da democracia, Portugal quer compensar todo o tempo perdido.
Termino com algumas sugestões bem atuais da música portuguesa e que me têm acompanhado nos últimos dias. Não querendo impor nada a ninguém, longe de mim replicar o modus operandi do Secretariado de Propaganda Nacional criado em ’33 pelo ditador das botas, recomendo vivamente que prestem atenção aos novos lançamentos de Ganso, com o disco “Vice Versa”, ao “Demorar”, de Afonso Cabral e ao novo “Paradise Village” de David Bruno.
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