Uma vez li num livro de autoajuda (não vamos falar sobre isso) que se procurarmos corações, vamos encontrá-los em todo o lado. Uma pedra em formato de coração, um cabelo que calhou de cair e formar um coração, um morango que nos lembra o mesmo formato, e por aí fora. Isto porque o nosso cérebro está condicionado a encontrar aquilo a que nós o educamos. Quando temos um carro novo, é normal que pareça que, de repente, existem mais carros da mesma marca que o nosso na estrada.
Mas será que é possível deseducar o cérebro a procurar certas coisas? A deixar de encontrar no vento significados ocultos que nos lembram daqueles que já partiram? Será que daria para comer um bolo de chocolate sem nos lembrarmos da nossa infância e de como brincávamos, tão felizes, junto aos nossos primos? É capaz de ser mais difícil…
Quando alguém se vai, leva sempre com eles um pedaço nosso, mas também deixa muito do que eles eram cá, enquanto familiares, amigos, pessoas. Deixam cá as memórias de quem com eles viveu, e a dificuldade de seguir em frente sem saber de cor as coisas que o faziam feliz, de passar pelos locais sem deixar cair uma lágrima. Deixam com quem cá fica, a culpa de não poder parar o tempo e deixar crescer, só mais um bocadinho, aquele abraço que costumava acalmar tudo.
Mas, acima de tudo, deixam um legado para continuar e sítios que não podemos parar de visitar, para que a memória não desvaneça, e não se perca na eternidade. Porque uma pessoa só deixa de existir, quando os que a amam a esquecerem.
Verónica Amado