ENTREVISTA: Archie Tattoo Studio celebra primeiro aniversário

ENTREVISTA: Archie Tattoo Studio celebra primeiro aniversário

O primeiro de dezembro de 2024, feriado nacional por ocasião da Restauração da Independência em 1640, é também ocasião especial para Ana Rita Sousa: O Archie Tattoo Studio – House of Arts celebra o primeiro aniversário.

Fundado em 2023, o estúdio de tatuagem da Ana Rita, alcunha Archie, é ainda um espaço de exposição para artistas de Vila Real e da região norte e interior. O evento contará com bolo, música ao vivo, flash tattoos, uma pequena feira, bebidas e comida, com patrocínio da Cultura a Dentro. A programação poderá ser consultada na íntegra no final do artigo ou no Instagram do estúdio e da Cultura a Dentro.

Para nos ajudar a perceber melhor o conceito, O Torgador falou com Archie sobre o estúdio enquanto ponto cultural vila-realense, enquanto estúdio de tatuagens e quais os sentimentos e planos envolvidos.

O Torgador (OT): O Archie Tattoo Studio – House of Arts faz um ano desde que foi criado. Como é que te sentes com este primeiro aniversário?

 

Archie (A): Primeiro que tudo, estou estupefacta com ter sobrevivido a um ano [risos]! No sentido em que ter um negócio próprio acaba por trazer aquela carga às costas de “Tenho contas para pagar, não tenho só que dar horas”. É a mistura de ter criado uma expectativa na minha cabeça que eu não me quero desapontar a mim mesma, nem desapontar quem acreditou nisto.

Foi um ano que, sobretudo, foi feliz. Acho que deu para fazer muita coisa aqui. Criamos muitas iniciativas, juntamente com a Cultura a Dentro que é, na verdade, o grande pilar por trás disto tudo a nível cultural.

A nível de tatuagem também foi muito incrível. Tive muitos clientes que vinham comigo já do primeiro estúdio, que era minúsculo e vieram para aqui comigo. Tive muitos novos clientes também, tenho malta que vem cá mensalmente e que tornaram isto também um bocadinho casa deles.

Sobretudo, sinto-me nostálgica e feliz porque acho que foi um ano bom, acima de qualquer outra coisa. Claro que há sempre dias maus mas foi um ano fixe e estou esperançosa que no segundo aniversário ainda seja melhor!

 

OT: Como é que surgiu a ideia de abrir este espaço?

 

A: Então, eu comecei a tatuar no final de 2022. Inicialmente, eu também tinha um trabalho à parte disto que era na área da comunicação. Eu estava numa agência de marketing e eu já costumava ir a um tatuador para me tatuar. E gostava muito de tudo aquilo que se passava ali, gostava muito da cena do desenho, do criar a arte, do falar, o ver na pele, aquele sentimento todo de ter que fazer. E eu vim de artes, acho que sempre tive uma veia muito direcionada para isso. E também sou muito de cultura, então quando eu decidi abrir o primeiro estúdio foi sempre com intuito de “quando for para abrir uma coisa grande vai ser uma coisa que não exista em Vila Real”.

E a verdade é que existem muitos estúdios de tatuagem em Vila Real, cada vez há mais estúdios mas sei que não há nenhum que se compare a este a nível de cultura; que era uma coisa que faltava em Vila Real.

Acho que Vila Real é uma cidade que tem muitos artistas. Sempre me dei com muitos artistas, sempre gostei muito de artistas e, basicamente, foi juntar o útil ao agradável porque a Cultura a Dentro já existia. Quando criamos a Cultura a Dentro, que é uma associação juvenil cultural, já foi com o intuito de um dia, se crescesse, termos um sítio onde fazer a arte acontecer quando ninguém nos der casa.

E o House of Arts parte um bocado disso, é a casa das artes dos artistas mais pequenos e sempre foi esse o intuito. Um espaço dedicado à arte e à cultura, com a loja escolhida a dedo para criar duas versões dela mesmo. É uma casa que está aberta a outros projetos.

 

OT: Queres-nos falar um bocado desse primeiro estúdio, da passagem desse estúdio minúsculo para esta casa das artes?

A: Estás a ver quando tu tens muito medo de arriscar? Tipo, ok, eu vou mandar vir uma máquina da Amazon, vou comprar uma máquina de 60 euros só para experimentar; se não der, não dá e pronto, são 60 euros, não são mil. Então, basicamente, foi isso. Foi mandar vir o material, foi sempre um espaço – embora minúsculo – sempre muito higienizado, foi um espaço muito pensado em todos os cuidados porque tenho muito medo dessa parte da saúde mesmo neste estúdio aqui.

A diferença é que era mesmo muito pequenino porque era um quarto. De um ano para o outro as coisas mudam muito, eu estava a aprender a tatuar e estava em casa. Sinto que, pronto, que nem tudo foi perfeito. Mas foi assim que nasceu um estúdio muito pequenininho que tinha todo o material necessário, toda a higiene necessária mas que era numa casa. Então as pessoas tinham de entrar, tinham de passar pelo hall, tinham de passar um corredor. Em termos de privacidade é péssimo, tinha cinco ou seis pessoas a passar pela casa de banho e acabava por ser um sítio em que as pessoas se sentiam efetivamente confortáveis ao ponto de pedirem para irem à cozinha aquecer comida ao micro-ondas. E eu pensei “se calhar eu quero ter um espaço que traga mais respeito”.

 

OT: Fala-nos um bocado dos artistas que tens neste momento em exposição.

 

A: Neste momento, no Espaço Artista temos aqui a Leonor Brites. A Leonor é uma menina que é de Vila Real e nós temos muita cultura em Vila Real que não é explorada. A Leonor está a estudar no Porto, é artista e é incrível, conseguem ver nitidamente o quão artistas são os artistas de Vila Real. Então, a ideia parte por aí mesmo e todos os meses, ou quase todos os meses, nós alteramos a exposição.

Temos material de outros artistas, temos Micael Bacelar Pereira, temos Fiada, temos o livro da Maria Caetano Vilalobos, temos Inês.rimacom, temos Carlos Sanches, Catarina Azevedo, Jumas, temos ilustrações, temos álbuns de música, temos olaria, temos quadros e as pessoas podem comprar. E a ideia é, se fores artista, tu podes trazer para aqui o teu material e expor aqui à venda; só tens de mandar mensagem e combinamos, vemos o que é que tens para pôr, se faz sentido neste momento ou não.

 

OT: Falando em arte e cultura, como é que surgiu essa relação entre a Cultura a Dentro e esta casa?

 

A: Não foi muito difícil porque sou a vice-presidente da Cultura a Dentro. Eu e a Sofia, a presidente da Cultura a Dentro, vivíamos em Lisboa e, na pandemia, surgiu a ideia de criar uma associação juvenil. E a ideia era quase o que se passa aqui, dar palco a artistas, mas digital, na altura, porque vivíamos a pandemia. Foi uma altura em que estávamos todos fechados, ninguém podia sair, os artistas estavam a passar um lado muito negro da vida deles porque estavam sem trabalho, não podiam dar concertos, não se podiam mostrar, não podiam fazer nada e nós também estávamos muito entediadas; já não havia livros para ler, já não havia bebidas na garrafeira, uma pessoa já não sabia mais o que fazer, os jogos já estavam cansados de nós! E foi a descoberta de uma associação muito bonita.

A Cultura a Dentro nasceu na era digital e a ideia era dar palco a artistas. Criamos Instagram, os artistas faziam concertos digitais e aquilo começou a juntar buéda gente. Era absurdo! Às nove da noite havia, imagina, 200 ou 300 pessoas juntas numa live a ver um artista só com uma guitarra e a cantar. E a malta estava lá toda só a usufruir do pouco que podíamos ter naquela altura. Agora está mais focado entre Porto e Vila Real mas com mais casa em Vila Real porque hoje temos uma casa das artes e estamos de mão dada com outros projetos em Vila Real, com a Câmara Municipal, com o município e com o Teatro de Vila Real.

Quando abri este espaço, sempre foi também com o intuito de lhe dar essa casa que já merecia. É juntar o útil ao agradável: eu tenho o espaço, a Cultura a Dentro tem os artistas, tem as aptidões, tem os fotógrafos, os videógrafos, os artistas, a produção, os técnicos. E é só dar vida às coisas.

 

OT: Voltando ao estúdio em si, um dos intuitos é ser um estúdio de tatuagens. Fala-nos um bocado do teu processo de criação das tatuagens.

 

A: Sim, nós falamos muito da House of Arts mas a verdade é que quem faz com que a House of Arts resista é a parte do estúdio. É, basicamente, ali que se passa tudo o que de alguma maneira me ajuda a pagar o espaço.

Sou tatuadora de fine line e de dot work, ou seja, linha fina e pontilhismo. Não nega fazer outros trabalhos, também os faço, mas estes são os que eu gosto mais de fazer. Há dois anos, não havia quase nada de linha fina e delicada em Vila Real. Os artistas que havia já eram aqueles artistas mais de mão pesada, que fazem aqueles brasões muito grandes, aquelas artes já grandes, os realismos… foi uma coisa que eu nunca me vi a fazer e foi assim que nasceu a minha área na tatuagem.

Para tatuares comigo, só tens de me mandar uma foto de referência, mandas-me uma mensagem no Instagram já que eu sou uma pessoa que sou extremamente rápida a responder às mensagens. Tenho muito essa cena das redes sociais porque eu acho que essa parte da comunicação também nunca saiu de mim. Eu tento sempre criar uma arte totalmente nova, não gosto de copiar artes, não gosto de fazer tatuagens “Pinterest”, gosto sempre de dar o meu toque. Mas tu vais ver, vais dizer o que gostavas de diferente, eu vou fazer as alterações necessárias e por aí adiante até encontramos o teu projeto ideal porque eu gosto muito da experiência, que a pessoa saia daqui a dizer isso foi uma experiência incrível. É a experiência, o sentir-se bem, o sentir-se confortável, o poder mudar o que tiver que mudar, as vezes que tiver que mudar, mudar os sítios, mudar a tatuagem. Eu tenho muita paciência para isso e gosto muito dessa parte.

E a verdade é que se a pessoa não sai daqui com uma coisa que vai ficar para sempre no corpo dela a amar com toda a certeza, aquilo vai ser uma coisa que vai viver ali e eu quero que a pessoa diga foi uma experiência incrível.

 

OT: Quais são os planos para dezembro?

 

A: Todos os meses temos uma mini tatuagem de oferta com a tatuagem que já vieste cá fazer e todos os meses tem um tema; por exemplo, nos 50 anos do 25 de abril eram mini cravos. Para o natal, vão ser tatuagens mais natalícias e conseguirás vê-las a partir de um de dezembro.

Além disso, vamos ter aos sábados projeção de filmes de natal. Tu vais estar a ser tatuado num ambiente muito cozy, muito quentinho, muito fofo e podes então ter um filme à tua disponibilidade para ver através de um projetor. Vai ser exclusivo para as sessões de tatuagem para sair da cena da ótica de que “estou aqui a ser tatuado” ou “que me está a doer” ou qualquer coisa desse género.

Comecei também um podcast chamado “A Solo”, que é um podcast onde vou falar muito a solo. O podcast nasceu da ideia de passar muito tempo sozinha. Entre entrada e saída de clientes, eu fico efetivamente muito tempo aqui a solo e às vezes dá vontade de falar com alguém ou com as paredes e, quando me dá vontade de falar com as paredes, vou falar com a câmera, com o microfone, para falar com toda a gente que se sinta também assim um bocadinho nessa posição ou simplesmente pessoas que gostem de ouvir podcasts e que gostem de ter companhia de casa para o trabalho, de trabalho para casa, quando estão a estudar ou a fazer o jantar, o que seja. Sai no Instagram e no Spotify em vídeo, assim como no TikTok, tanto no meu pessoal como no Archie Tattoo Studio. Vai ser um podcast um bocadinho misto entre artista e pessoa meramente comum que gosta de falar com pessoas.

Recentemente, fiz parceria com a Associação de Estudantes da UTAD. Se fores sócio, tens 10% de desconto na tatuagem e 15% em workshops e eventos pagos, independentemente do valor. Só tens de me avisar na hora de marcação ou da compra.

Uma outra opção é começar a receber mais guests em 2025, tenho malta a querer vir em fevereiro, e continuar a fazer as minhas guests. Já estou em comunicação com uma menina aqui na zona norte para ir em janeiro fazer e fazer continuamente, ou seja, mensalmente ir lá fazer uma guest ao estúdio dela.

 

OT: E planos para o segundo ano?

 

A: A minha ideia será aumentar o espaço a nível de artistas mas digo na parte da tatuagem: estou a tentar desenvolver aqui uma ideia onde consigo inserir mais tatuadores, body piercers e outros tipos de arte na pele. Não quero mais ninguém fazer fine line porque acho que não faz sentido estarem mais pessoas aqui a fazerem a mesma arte que eu. Na parte dos piercings, também espero a partir de 2025, ter malta aqui a fazer piercings, a fazer tooth gems.

No Espaço Artista, igualmente fazer mais eventos. Coisas mais diversificadas, uma nova edição do Drink and Draw, que houve este ano pela primeira vez em Vila Real e para o ano espero haver a segunda e fazermos muitos mais eventos.

Programação

15h | Abertura de Portas – DJ Set de Mazeda

15h30 | Inauguração de Mural – Jumas

16h | Concerto de Manuel Bastos, com Ricardo Pavão, Paulo Freitas e Margarida Gomes

17h | Abertura de Bolo e Champagne

15h-19h | Flash Tattoos, com Archie; Feira de Negócios Locais.

Joaquim Duarte