O poder da ciência mística da alquimia é assustadoramente fantástico. Afinal, como é que se explica o acaso de um amor cósmico?
Nunca pensei que a colisão entre uma estrela e um cometa qualquer culminasse numa forma tão desastrosa. Acho que é assim que nascem os buracos negros, ou lá como os homens da ciência costumam chamar a estes fenómenos, que, por vezes, nem mesmo eles sabem explicar.
No infinito vácuo do espaço, um silêncio ensurdecedor reinou e preencheu o vazio daquele coração interestelar, que em tempos palpitava loucamente por meros encontros nos anéis de Saturno. Entre rastos de poerias cintilantes, os outros astros continuaram o seu rumo para as outras galáxias mas aquele corpo celeste sentiu o seu plasma luminoso ceifado, acreditando que não passava de um mero e insignificante grão de areia dentro de um universo tão vasto.
Por sua vez, a Lua testemunhou tudo e alertou aquele corpo estelar sobre as consequências das mudanças de órbita, mas, se isso fazia sentido logicamente, emocionalmente a estrela optou por seguir os batimentos termonucleares do seu núcleo acreditando nos resquícios de esperança que as auroras boreais deixaram para trás.
A verdade é o que os dois pertenciam a galáxias diferentes e fizeram tudo o que podiam para dar certo mas a força da gravidade foi mais forte, o que culminou na destruição de promessas mais profundas que o próprio Oceano Pacífico.
Acredito que ainda nesta vida esta estrela encontrará a sua verdadeira luz e se libertará das sombras que pairam no cosmo. Mas agora ficam os vestígios desta fatídica colisão no Sistema Solar que transformou os lendários encontros das chuvas cristalinas de Neptuno em sessões hostis, tal e qual as tempestades gasosas de Júpiter.
Há coisas que só acontecem uma vez em cada eternidade. Talvez numa outra vida aquele coração interestelar poderá proferir todas as palavras e todas as saudades que não conseguiu transmitir àquele que acreditava ser a sua alma-gêmea. Até lá, a sua confidente aguarda o seu renascimento através de uma Supernova, e talvez aquele corpo gelado que vagueia de galáxia em galáxia se aperceba do que deixou escapar.
Ivo Pereira