Desejo é falta. Amamos o que faz falta e, por desejarmos o que não temos, amamos o
que desejamos. Consequentemente, o desejo torna-se incomodativo e fazemos os
impossíveis para o silenciar. Eufemismo para um grande vazio que nos atormenta.
Alcançamos o que mais almejamos e, por breves instantes, tomamos o gosto à
felicidade. Diria que somos todos alvo deste ciclo vicioso.
Se já possuímos, o amor começa a esvanecer? Sucessivamente à posse, fazemo-la
breve ou pertencente ao quotidiano. Se escolhemos a segunda opção, amar deixa de ser
fugaz, passa a ser o exercício da escolha livre. Amar passa, obrigatoriamente, a ser
sinónimo de intelectualizar. Confuso? Resumidamente, passamos de um amor,
essencialmente, emocional para um mais voluntário. É este último o mais genuíno, o
mais enriquecedor, mas também o que dá mais trabalho.
O problema é que, atualmente, há poucos voluntários, mas há muitos a tomarem a
felicidade como uma ilusão. Não diria uma ilusão. Comparo-a, também, a uma borboleta
que pousa em nós quando tem de ser. Quando não tem de ser, vivemos para o
contentamento do dia a dia.
O que quer que façamos por outra pessoa, por um bem material ou por um simples
acontecimento, fazemo-lo porque preenche uma necessidade nossa. Está tudo bem em
serem repentinos nas nossas vidas, mas alguém ou alguma coisa tem de ficar para
sempre, por nossa própria escolha. Para sempre é muito tempo, dizem…, mas fica para
sempre porque tomamos uma iniciativa contra a inércia da preguiça, fica para sempre
porque somos conscientes de que o Eu não se faz somente com picos de felicidade. Tal
situação não deve continuar a ser normalizada!
Inês Carneiro