Lembro-me como se fosse ontem quando comprei um álbum em vinil pela primeira vez. A ansiedade foi tanta que, quando cheguei a casa, a única coisa que fiz foi colocá-lo no gira discos para o conseguir ouvir. Devo dizer que fiquei contagiado por uma sensação de entusiasmo inigualável que, infelizmente, nunca mais irei presenciar. Até diria quase tão indescritível como o próprio amor.
Lembro-me perfeitamente de prometer aos meus pais que não iria comprar muitos álbuns em vinil, mas acabei por descobrir a paixão de ser um colecionador, e, por consequência, encontrei um novo vício. Simplesmente não me consigo conter, acho fantástico como um simples disco de plástico consegue reproduzir música. Parece quase magia.
Para ser honesto, já perdi a conta ao dinheiro que gastei no que muita gente considera desnecessário e inútil. Para muitos, este investimento não faz sentido, porque nos dias de hoje é possível ouvir qualquer tipo de música na palma das mãos e nos mais avançados dispositivos tecnológicos. Nunca o streaming poderá substituir a mágica sensação de ouvir música num disco de vinil, muito menos a paixão que, para mim, e para muitos outros, representa ouvi-los e colecioná-los. Acredito que esta nova forma de consumo musical banaliza o ato de ouvir música ao torná-la mais “fácil” e acessível para os ouvintes, mas desvalorizando o trabalho dos artistas.
Desta forma, sinto-me completamente encantado e agradecido por ainda ser possível ter algum tipo de contacto mais próximo com a obra que foi criada, e que chegou até mim naquele simples, mas complexo, pedaço de plástico.
Penso que ouvir música também pode ser considerada uma arte, pois não é qualquer um que a compreende e que, principalmente, a consegue sentir. É como nos diziam em criança: “ver é com os olhos”. Neste caso, “ouvir é com os ouvidos” e “sentir é com o coração”, porque há paixões que não se explicam.
Ivo Pereira