“Seremos capazes de compreender o mundo que criámos?”, li enquanto passava rapidamente os meus olhos numa extraordinária biblioteca de palavras e de histórias com sede de serem contadas. Histórias de contos de fadas e de fantasias que nos levam a abstrair daquilo que é a realidade, por vezes um verdadeiro filme de terror. “Filmes” que por serem longe da nossa realidade, nos envolvem nos problemas do quotidiano. Talvez seja falta de sensibilidade da nossa parte, mas logo somos relembrados do que é o mundo na sua mais obscura face.
A condição humana está submetida a uma dualidade, onde o mundo não é apenas um refúgio de luz e positividade, mas também de aspetos como a violência, injustiça, opressão e sofrimento que são, lamentavelmente, parte integrante da experiência humana. Penso que, em vez de estarmos a caminhar para um mundo mais tolerante e unido, estamos a caminhar para a existência de mais divergências, onde a primeira resposta é o ataque ao próximo. No fundo, o pensamento humano e as suas atitudes, em vez de acompanharem a crescente evolução a que o mundo está sujeito, estão a regredir aos primórdios da humanidade.
Posto isto, questiono “Seremos capazes de compreender as nossas ações e as suas consequências?”. Acredito que, por vezes, falta refletir sobre os nossos valores e princípios, e se estamos a ser éticos nas nossas decisões ou se somos, simplesmente, como um bambu, vazios por dentro.
Estamos no século da grandiosidade tecnológica e da inovação, e com ela veio algo que é imprescindível ao nosso dia a dia, as redes sociais. Este esplendido meio social veio revolucionar a forma como nos relacionamos, como obtemos informação ou até como participamos na vida pública.
Contudo, “Seremos capazes de compreender as mudanças na nossa saúde, nas nossas relações interpessoais?”. Que as redes sociais vieram remodelar a nossa vida é um facto. Mas é verdadeiramente assustadora a rápida dependência que criámos com o digital, como se tivesse ocorrido um magnífico processo de simbiose. Elas instigam comportamentos individualistas e relações superficiais, não contribuindo para estimular as necessidades sociais inerentes ao ser humano. Somos seres sociáveis, e precisamos de conviver com outras pessoas para podermos atingir, ou tentar atingir, o potencial das nossas capacidades. Além disso, o digital pode assumir-se como um espelho cruel, onde pessoas infelizes e cruéis espalham uma cultura de ódio, muitas vezes sem qualquer fundamento e sem mostrar qualquer sensibilidade para o sofrimento do outro.
Diante destas complexidades, e de outros desafios que enfrentamos enquanto sociedade, é essencial compreender as suas fragilidades e buscar uma mudança coletiva, de modo a construir um futuro mais harmonioso para todos.
Ana Diniz