Quero sentir-me normal.
Normal como quem respira sem medo de perturbar e de ser.
Normal como o nevoeiro ou uma pinga de água,
que aparecem sem aflição de pesar.
Normal como os candeeiros,
que acendem sem a preocupação da luz ser em demasia.
Normal como as linhas na estrada,
que não temem a sua continuidade.
Normal como um casaco,
que tanto se tira como se volta a vestir, mas guarda-se sempre.
É que faz falta, e dá jeito ter.
Normal como os pelos de gato na roupa,
que se notam mas não se querem fora.
Normal como as árvores,
que, ora com folhas ora sem,
não se deixa de lhes reconhecer valor
nem se deitam abaixo.
Normal como os carros no trânsito,
que aceleram e abrandam, mas decidem não estagnar.
Normal como as folhas das árvores pintadas no chão molhado de tanto serem pisadas,
em que se notam as fases,
agradece-lhes a estadia,
e se esperam ver mais vezes.
Normal como a água fria da piscina,
que faz estremecer mas se convida com facilidade.
Normal como subir as escadas,
que cansam, nos tiram o fôlego, mas são sempre uma hipótese válida, e segura.
Normal como um cigarro aceso,
que avança mesmo quando ninguém lhe presta atenção.
Normal como o cheiro a comida,
que invade sem obrigar e permanece sem ser preciso tentar.
Normal como as eras que ultrapassam muros
e se entusiasmam com o crescer,
mesmo ocupando espaço.
Normal como quem suspira porque quer continuar,
não porque está cansado de lutar e constantemente a quebrar.
Diana Batista