Já te perguntaste qual a razão de não presenciarmos com tanta frequência mulheres no poder? É revoltante que apesar de tantas mudanças, a pouca representatividade feminina na política é latente. Quantas mulheres estão no parlamento? Será que há incentivos? Será que pautas como a desigualdade de género são discutidas? As necessidades de equilíbrio entre a vida profissional e familiar são tidas em conta? Muitas destas questões sinto que são simplesmente deixadas a segundo plano por nós cidadãos. A política ainda é um palco constituído por homens, um campo pouco fértil para as sementes femininas brotarem.
Felizmente, é um tema muito discutido ultimamente. Existem medidas como as “quotas voluntárias dos partidos” e a “Lei da Paridade” adotadas por 23 dos 28 países da União Europeia, inclusive por Portugal. É inegável os incentivos relativamente à igualdade de género na política. No entanto, ainda é uma atmosfera masculina, o poder continua a ser másculo, a discriminação, ainda assim, é recorrente. As mulheres sofrem por uma vigilância minuciosa quanto ao seu desempenho, dentro e fora da política. Apesar das qualificações, muitas mulheres ainda enfrentam enormes obstáculos, vivem numa prova diária, porque são competentes e merecem o devido reconhecimento. Sem falar da dupla jornada, que é conciliar a vida profissional com a vida familiar, algo que não é colocado em causa nas perspetivas masculinas. Dentro da União Europeia, dois em cada três homens nem sequer dedicam uma hora por dia aos filhos.
O mundo parece não estar habituado a ver mulheres no poder, voltamos sempre à questão da sociedade precisar de dividir e estereotipar as mulheres. Quando são ativas politicamente, são vistas como controladoras, agem como homens, não são aptas às “futilidades” femininas, casar e ter filhos? Nem pensar! Um trabalho que requer tanto tempo e dedicação, como iremos nós administrar?
Precisamos de representatividade e não de mais opressão. O incentivo começa em casa, precisamos de meninas conscientes e com posicionamentos políticos sólidos o suficiente para enfrentar as barreiras da desigualdade. Se não optamos pela via política, existe uma razão por trás disso, não somos estimuladas para tal aptidão. Não somos estimuladas a falar e se falamos, somos rotuladas como “loucas feministas”. O diálogo é desconfortável, porém necessário, pois é o desconforto que faz com que possamos ver através do véu. O debate muda completamente de direção, se falarmos da mulher negra na política, da dupla discriminação racial e de género. A consciência dos nossos privilégios torna-se indispensável para eliminarmos as barreiras da diferença, será utópico pensarmos na meritocracia? Como proporcionar as mesmas condições sem ter em conta as limitações sociais de cada indivíduo?
A importância das mulheres na política decai na necessidade do empoderamento e da emancipação feminina, medidas governativas pensadas por mulheres e para mulheres. O mar da política, sem dúvida, precisa de ser desbravado por nós mulheres, ao tomarmos consciência do poder do posicionamento. Não somos histéricas, se gritarmos por um espaço que também é nosso, apenas agimos como mulheres, mulheres com M. Se não tivermos mulheres na tomada de decisões, continuaremos com homens a decidirem por nós, e como homens, será que são capazes de decidirem, tendo em conta as necessidades femininas ou os problemas que atingem maioritariamente as mulheres?
Giovanna Querubim