De forma diferente se fala de futebol
O Núcleo de Estudantes de Ciências de Desporto da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro promoveu durante os passados dias 11 a 15 de maio o VII Congresso de Futebol que, devido à pandemia que estamos a atravessar, foi feito em formato digital.
O primeiro dia do VII Congresso de Futebol começou na segunda-feira, dia 11 de maio com a sessão de abertura às 18h. A sessão contou com a presença de diversas figuras ligadas à UTAD, sendo estes, José Pinheiro (Presidente da AAUTAD), Artur Sá (Presidente da ECVA), Ágata Aranha (Presidente do DCDES), Vítor Maçãs (Docente do DCDES) e, por último, Jorge Ribeiro (Presidente do NED).
O Congresso de Futebol, verdadeiramente dito, iniciou-se mais tarde às 21 horas. Tendo como moderador o docente Vítor Maçãs e como tema principal “Os diferentes contextos de intervenção” a sessão decorreu de forma exemplar.
Filipe Rocha (Treinador do CD Feirense), Miguel Leal (Treinador do CD Cova da Piedade), Vasco Almeida (Treinador do AD Castro Daire e ex-utadino) e Manuel Machado (Treinador do Berço FC) abrem as hostilidades com as suas experiências na área, especificando o processo até atingir a posição que preenchem atualmente. Os oradores debateram os vários benefícios, dificuldades e o processo desta entidade tão importante (nomeadamente no mundo futebolístico) e de todo o que os rodeia.
Já no dia 12 pelas 17h30 deu-se a palestra “futebol, preparação física e nutrição: onde se cruzam?” que contou com os oradores Filipe Sousa, Xavier Mesquita e Rafael Peixoto e a moderação de Rui Maldini.
Filipe Sousa destacou a sua experiência pessoal, onde encontrou na nutrição uma lacuna que existia no futebol como futebolista, referiu que a nutrição, fisioterapia, entre outros, têm evoluído bastante e são hoje fundamentais ao futebol e os jogadores começam a valorizar cada vez mais esta questão.
Xavier Mesquita por sua vez salienta que a nutrição é essencial aleada a um bom treino desde o controlo da hidratação pois a desidratação aumenta o risco de lesão. Segundo ele, o físico cada vez vai se sobrepor ao talento ou balancear-se ao contrário do que acontecia antigamente pela questão de haver mais jogos e maior ritmo competitivo.
Rafael Peixoto trabalha os atletas num contexto de pré-época e também para afinar aspetos que faltam durante a época e, na sua opinião, todas as áreas que dão nome à palestra são importantes tendo de haver um equilíbrio entre todas.
Pelas 21h iniciou-se a palestra “futebol feminino: passado, presente e futuro” que contou com a moderação de Pedro Castro e a participação de Francisco Neto, Mónica Jorge e Susana Cova como oradores.
Francisco Neto começou por referir que o crescimento nos últimos seis anos no futebol feminino é incrível, mas o trabalho iniciou-se muito antes, fruto da dedicação de várias pessoas. Destacou ainda quando a seleção A se qualificou para o europeu de futebol em 2017 o futebol feminino abriu telejornais e foi capa de jornais o que se tornou algo inédito e foi o carimbo que era esse o caminho certo, embora haver muito a fazer este foi um exemplo que há muito potencial.
Mónica Jorge lembrou que a realidade que temos hoje é muito diferente de há 10 ou 20 anos atrás mas que ainda há muito caminho a percorrer. Relembra que o facto de o nosso país ter ganho a liberdade há poucos anos é um fator que influencia na modalidade e destaca que o objetivo da FPF é que todos os clubes em Portugal tenham a modalidade nos seus quadros competitivos.
Susana Cova mostrou-se agradada com a evolução que a modalidade teve mas relembra que a cultura desportiva ainda tem que melhorar embora o sucesso que se tem vindo a verificar tenha projetado a modalidade para dentro das casas dos portugueses.
No dia 13 pelas 17h30 decorreu a palestra “como potenciar um jogador na formação” que contou com os oradores João Tralhão, Gil Andrade e Luís Silva e moderação de Carlos Soares.
João Tralhão referiu entre outras coisas que na sua ótica a ideia de jogo não se reduz a questões técnicas e táticas e acredita que o processo de formação é para os jogadores e não para os treinadores por isso é importante perceber o tipo de estímulos que precisam para chegar ao futebol sénior e ter sucesso.
Gil Andrade destaca que nos escalões mais baixos é bom ter uma mudança gradual de treinador para irem adquirindo novas formas de receber as ideias de jogo mas que no caso dos sub-18/19 onde se dá mais importância à competitividade, é bom manter o mesmo treinador.
Luís Silva focou a sua intervenção na exemplificação mostrando que na formação existem focos e etapas a desenvolver sendo que até aos sub-15 usa-se a dimensão técnica e a partir daí é a questão tática que prevalece.
Mais tarde ainda no mesmo dia, houve mais uma vez transmissão. Por volta das 21 horas, o tema foi “O papel dos Sub-23 na formação” e contou com a presença de Sérgio Mota enquanto moderador. Contou ainda com a presença de mais três palestrantes: Vasco Seabra, José Carlos Araújo e, por último, Leandro Pires.
A palestra focou-se mais na vertente de um treinador em tempos de COVID-19, sendo que são tempos que exigem mudanças drásticas tanto para o treinador como os jogadores mais novos que procuram crescer – a nível profissional. Os treinadores referem o quão complicado é gerir o escalão sub-23, devido a alguns jogadores estarem inscritos enquanto profissionais (e esses voltaram ao trabalho ainda esta época, ao contrário dos outros) enquanto que outros não.
Pelas 21h de dia 14 decorreu a palestra “a experiência no estrangeiro” que contou com a intervenção de Abel Ferreira e Domingos Paciência e a moderação de Bruno Anjos.
Abel Ferreira salientou a necessidade de um bom tradutor para que a mensagem seja eficaz, a necessidade de conhecer a cultura, rotinas e forma de vida do país onde se vai treinar.
Já Domingos Paciência abordou a questão do conhecimento dos vários fatores que possam influenciar o seu modelo de trabalho nomeadamente, religião e cultura.
No dia 15 foi a vez da palestra “o papel do adjunto” entrar em cena onde intervieram Álvaro Pacheco, Sérgio Costa e João Carlos Costa com moderação a cargo de Gil Couto.
Sérgio Costa defendeu que o treinador adjunto deve preocupar-se com o treinador principal mais do que ganhar protagonismo pessoal, que através da partilha e troca de ideias muitas vezes o treinador principal muda a sua a ideia que trazia inicialmente.
Por sua vez Álvaro Pacheco assume que os treinadores de sucesso valorizam o seu adjunto, que no seu caso as vivências como futebolista moldaram a sua ideia de jogo e que a maior preocupação é olhar para a equipa e perceber de que forma pode evoluir e crescer.
Já João Carlos Costa frisou que o adjunto também é um treinador e por isso também tem a sua ideia de jogo e defendeu que cada treinador deve ter a sua conceção não se agarrando a um conceito só porque está na moda.
Para fechar o congresso, às 21h Hilário Leal e André Veras deram o seu contributo, moderados por Pedro Moreira na palestra “o impacto de um diretor desportivo”.
André Veras começou por destacar que um diretor desportivo assume toda a dinâmica e relação de finanças e contratações e que como team manager cabe-lhe apenas dirigir a dinâmica e dia-a-dia da equipa acompanhando os processos no SEF e instalação dos jogadores no clube e na cidade.
Por sua vez Hilário Leal referiu que não se pode comparar um diretor desportivo de um clube de grande dimensão com um clube mais modesto pela quantidade de meios que ambos dispõem, a necessidade de manter uma boa relação com os agentes e jogadores para lhes mostrar o projeto desportivo e acompanhar a formação do clube.
Terminado o VII Congresso de Futebol, todos os intervenientes viram com bons olhos a iniciativa do Núcleo de Estudantes de Desporto, tendo sido deveras didática e agradável para todos os interessados na questão. A participação exemplar e interativa dos vários profissionais foi ponto fulcral no bom funcionamento de todo o evento que atraiu de inúmeros estudantes utadinos e não só.
Ana Martins e Carlos Cardoso
Fotografia: Núcleo de Estudantes de Desporto da AAUTAD